O retrocesso vivido nestes primórdios do século XXI remete-nos directamente aos piores momentos do "Modo de Produção Capitalista", quando ainda eram comuns práticas ainda mais selvagens. Não apenas se procurava a extracção da mais-valia, através de baixos salários, mas até mesmo a saúde física e mental dos trabalhadores estava comprometida por jornadas que se estendiam até 17 horas diárias, prática comum nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos no final do século XVIII e durante o século XIX. Férias, descanso semanal e reforma não existiam. Para se protegerem em momentos difíceis, os trabalhadores desenvolviam vários tipos de organização - como as caixas de auxílio mútuo, percursoras dos primeiros sindicatos.
Chicago, um dos principais pólos industriais norte-americanos, também era um dos grandes centros sindicais. Em 1886, Chicago foi palco de uma intensa greve operária. À época, Chicago não era apenas o centro da máfia e do crime organizado era também o centro do anarquismo na América do Norte, com importantes jornais operários como o Arbeiter Zeitung e o Verboten, dirigidos respectivamente por August Spies e Michel Schwab.
Como já se tornou praxe, os jornais de tendencias patronais chamavam aos dirigentes operários de preguiçosos e canalhas que procuravam criar desordens, o Chicago Times afirmava: "A prisão e os trabalhos forçados são a única solução adequada para a questão social", o New York Tribune: "Estes brutos [os operários] só compreendem a força, uma força que possam recordar durante várias gerações...".
No dia 1 surge uma caminhada, composta por trabalhadores, desempregados e familiares, que silenciou momentaneamente tais críticas, embora com resultados trágicos a pequeno prazo. No alto dos edifícios e nas esquinas estava colocada a repressão policial. A manifestação terminou com um ardente comício.
No dia 3, a greve continuava em muitos estabelecimentos. Em frente à fábrica McCormick Harvester, a policia disparou contra um grupo de operários, matando seis, deixando 50 feridos e centenas presos, Spies convocou os trabalhadores para uma concentração na tarde do dia 4. O ambiente era de revolta apesar dos líderes pedirem calma.
Os oradores iam se substituindo; Spies, Parsons e Sam Fieldem, pediram a união e a continuidade do movimento. No final da manifestação um grupo de 180 policias atacou os manifestantes, espancando-os e pisando-os. Uma bomba estourou no meio dos guardas, cerca de 60 foram feridos e vários morreram. Chegaram reforços e começaram a atirar em todas as direcções. Centenas de pessoas, de todas as idades morreram.
A repressão foi aumentando num crescendo sem fim, decretou-se “Estado de Sítio” e proibição de sair às ruas. Milhares de trabalhadores foram presos, muitas sedes de sindicatos incendiadas, criminosos e gângsters pagos pelos patrões invadiram casas de trabalhadores, espancando-os e destruindo os seus haveres.
A justiça burguesa levou a julgamento os líderes do movimento, August Spies (tipógrafo de 32 anos), Sam Fieldem (operário têxtil de 39 anos), Oscar Neeb, Adolph Fischer (tipógrafo de 31 anos), Michel Shwab (encadernador de 34 anos), Louis Lingg (carpinteiro de 23 anos) e George Engel (tipógrafo de 51 anos). O julgamento começou dia 21 de Junho e desenrolou-se rapidamente. Provas e testemunhas foram inventadas. A sentença foi lida dia 9 de Outubro, no qual Parsons, Engel, Fischer, Lingg e Spies foram condenados à morte na forca; Fieldem e Schwab, a prisão perpétua e Neeb a quinze anos de prisão.
O Dia Mundial do Trabalhador foi criado em Julho de 1889, por um Congresso Operário Marxista realizado em Paris no centenário da revolução francesa, de onde surgiria a fundação da Segunda Internacional (não me vou alongar sobre Marx ou Bakunin).
Em Portugal, devido ao facto de ter havido uma ditadura fascista durante muito tempo, só a partir de Maio de 1974 (o ano da revolução do 25 de Abril) é que se passou a comemorar publicamente o Primeiro de Maio, pois só os tipógrafos gozavam feriado nesse dia, era uma forma de enganar o regime e celebrarem o Primeiro de Maio.
Só em Maio de 1996 é que os trabalhadores portugueses passaram a ter direito às 8 horas por dia.(?)
A relembrar a data no nosso concelho encontramos a inauguração da Sociedade Filarmónica Capricho Moitense, fundada no 1º de Maio de 1928 e outras como o 1º de Maio Futebol Clube Sarilhense, fundado a 1 de Maio de 1918.
A história do Primeiro de Maio mostra, portanto, que se trata de um dia de luto e de luta, não só pela redução da jornada de trabalho, mas também pela conquista de todas as outras reivindicações de quem produz a riqueza da sociedade.
A luta de hoje, como a luta de sempre, por parte dos trabalhadores, reside em manter todos os direitos constitucionais adquiridos e encontrar mais avanços no sentido da felicidade do ser humano.
