Por muitas e óbvias razões em relação ao areópago que se reuniu em Copenhaga, nem sequer se verificou espaço para o cepticismo, tal não era já generalizada a convicção de que para evitar o fracasso, bastaria aprovar e acordar umas trêtas. Exactamente porque assim foi, a Conferência não foi um fracasso.
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Repare-se que as incertezas e contradições eram e são tantas em relação à meta de dois graus de aumento da temperatura média do Planeta, que nenhum cientista a sustentou, tratando-se assim de um objectivo determinado exclusivamente por politicos, que agarraram tal ideia como coisa que serviria bem no presente a demonstração de empenhamento na busca de soluções, atirando para depois das suas vidas a verificação e controlo de execução das suas propostas. É deste modo que aparecem as metas de redução de CO2 por país e continentes, como se os intervenientes dos possíveis acordos cá estejam em 2050. É assim o exemplo concreto da ligeireza, senão mesmo da hipocrisia com que avaliam e encaram os problemas para a humanidade que decorrem das evidentes, globais e rápidas transformações que se observam no Planeta.
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É por isto que estamos e continuaremos a afastar-nos da natureza. Incapazes de conviver com ela por rejeitarmos assumir a crise paradigmática em que estamos envolvidos sob a batuta do Deus Mercado e do Super Deus Lucro, persistindo globalmente no mesmo modelo de desenvolvimento que não respeita nem se modela à Lei da Entropia.
Isto quando conforme com aquela Lei, toda a matéria e energia só se tranforma num sentido, entre utilizável e inutilizável, disponivel e indisponivel, ordenada e desordenada. Só os seres vivos conseguem mover-se em sentido contrário ao processo entrópico, facto também natural, mas que nos responsabiliza pela astronómica quantidade existente de energia inútil e desordenada, cujo excesso é oriundo do referido modelo de desenvolvimento prevalecente, iniciado à cerca de 200 anos.
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Em pleno século XXI a humanidade está assim perante o facto de ter de descobrir o que fazer para equilibrar parâmetros de vida confortáveis, mas que a natureza suporte - assumindo o facto de que hoje um ser humano gasta diáriamente 500 vezes mais energia, que na idade média, cuja população mundial de então, se calcula menos de 1/4 da actual.
Será por este, ou mais ao lado, o caminho a percorrer que alguns pensaram ter iniciado em Quioto, agora desiludidos pelas trêtas de Copenhaga - mas que tem de ser percorrido - também com os milhões lá leiloados e prometidos, a serem usados por uma consciência social, que a par, questione os actuais modelos de desenvolvimento e utilize a enorme bolsa de sabedoria, o conhecimento cientifico e a capacidade tecnológica existentes no mundo, como propriedade de toda humanidade.
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Ao invés disto, será repetir "Conferências entre Narcisos"e aceitar a inevitabilidade de resvalar para o mesmo tipo, a velha argumentação usada, ou seja, exigir que a China reduza as emissões de CO2, quando com 1,32 mil milhões de habitantes, são precisos quatro chineses para consumirem a energia gasta por um europeu e onze por um americano. Seria cair na estupidez de limitar o sonho do chinês em ter um automóvel, ou no contrário, de pretender obrigar um europeu ou um americano a deslocar-se de burro ou bicicleta.
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A discussão não pode ser esta, pois se por um lado o Planeta não suporta a manutenção e repetição do modelo de desenvolvimeto actual, também aqueles que vivem em parâmetros tão baixos, não podem ficar eternamente condenados.
O caminho é o outro, que juntará todas as pessoas de boa vontade deste mundo - menos aqueles, que já hoje pagam milhões para que descubram um planeta parecido com a Terra, aqueles que já sonham pirar-se à conta da energia que por cá desarrumaram, da bela lixeira que fizeram.