The Parkinsons - Bad Girl
Na Galeria Zé Dos Bois, a rapaziada volta ao ataque. Há sempre um bichinho que mexe com a malta e os Parkinsons são exemplo disso. Depois de terem terminado a sua carreira eles aí estão para mais três concertos em Portugal e arredores. Podem sempre visitar o Myspace dos Parkinsons aqui.
quinta-feira, novembro 30, 2006
Divulgação AAAAM
.
Dia 30 de Novembro pelas 22H, na colectividade “Estrela Moitense” na Moita realizar-se-á um espectáculo de crianças para as crianças organizado pelos alunos da Ex.ma Srª Professora Maria João da Escola D.Pedro II / Moita, que consistirá de uma tuna e dois teatros musicais, o preço do Bilhete é de 2€, e reverterá totalmente para as obras do nosso novo Abrigo.
Na ocasião a Srª Prof. Maria João irá fazer a entrega a um membro da Associação de um montante carinhosamente conseguido nos últimos dois anos de trabalho em conjunto com os alunos, que de uma forma muito dedicada e dinâmica têm organizado imensas iniciativas como quermesses e espectáculos para conseguirem dinheiro para materiais de construção. Iremos ainda estar presentes com uma banca de rifas e venda de artesanato.
Quem estiver interessado em adquirir bilhetes deverá reservá-los para o mail animaisdamoita@sapo.pt com indicação do nome e quantidade, e procederá ao seu levantamento minutos antes do espectáculo.
Dia 30 de Novembro pelas 22H, na colectividade “Estrela Moitense” na Moita realizar-se-á um espectáculo de crianças para as crianças organizado pelos alunos da Ex.ma Srª Professora Maria João da Escola D.Pedro II / Moita, que consistirá de uma tuna e dois teatros musicais, o preço do Bilhete é de 2€, e reverterá totalmente para as obras do nosso novo Abrigo.
Na ocasião a Srª Prof. Maria João irá fazer a entrega a um membro da Associação de um montante carinhosamente conseguido nos últimos dois anos de trabalho em conjunto com os alunos, que de uma forma muito dedicada e dinâmica têm organizado imensas iniciativas como quermesses e espectáculos para conseguirem dinheiro para materiais de construção. Iremos ainda estar presentes com uma banca de rifas e venda de artesanato.
Quem estiver interessado em adquirir bilhetes deverá reservá-los para o mail animaisdamoita@sapo.pt com indicação do nome e quantidade, e procederá ao seu levantamento minutos antes do espectáculo.
Apoios:
- Junta de Freguesia da Moita
- Sociedade Filarmonica Estrela Moitense
Desejo que a Associação dos Amigos dos Animais Abandonados da Moita consiga esgotar a sala da Estrela Moitense.
terça-feira, novembro 28, 2006
De_coração
.
A ultima assembleia municipal parece que esteve quente nos comentários proferidos por um senhor MM que se acha no direito de ofender tudo e todos, a torto e a direito (parece que também levou algumas respostas menos agradáveis tipo "cowboy").
Um deputado da oposição criticou o facto de nos quadros de pessoal começar a haver "Muitos chefes e poucos índios" (geralmente um abre o buraco e outros 5 ou 6 estão a olhar). O tal senhor MM começou por insultar este deputado municipal dizendo que "já deve ter fumado o cachimbo da paz com algum cara pálida e está na posição que se encontra", é no mínimo bárbaro tal afirmação, vindo de uma bancada onde militam muitos sindicalistas. Não se resumindo ao cachimbo (parece que o outro até nem fuma), chama mentiroso a um vereador do executivo (que até tem um blog e não está nas nossas ligações, por desleixo da malta) por algo que ele escreveu no seu blog.
Bom, barraca armada nos passos do concelho. O vereador pede a palavra e o presidente da câmara recusa. O homem insiste e nada. As bancadas da oposição chamam a atenção para a defesa da honra do homem, por fim lá teve direito a falar, mas comedido nas suas palavras porque estava sempre a ser interrompido.
Se a coisa correu assim, acho que o partido da maioria absoluta deveria dar umas dicas ao senhor MM de como intervir (ou será que aquelas já são as dicas?). Fogem aos assuntos recorrendo aos ataques pessoais. Quero saber como será quando o PDM tiver de ser aprovado na assembleia.
Aos vereadores da oposição aconselho a deixar uma jarra de flores no seu lugar (De_coração) e abandonarem a sala, pois isto de ser saco de encher não deve ser facil.
Aos deputados da oposição acho melhor levarem "colete de balas" porque os tiros já não caem nas politícas mas sim no pelo.
A ultima assembleia municipal parece que esteve quente nos comentários proferidos por um senhor MM que se acha no direito de ofender tudo e todos, a torto e a direito (parece que também levou algumas respostas menos agradáveis tipo "cowboy").
Um deputado da oposição criticou o facto de nos quadros de pessoal começar a haver "Muitos chefes e poucos índios" (geralmente um abre o buraco e outros 5 ou 6 estão a olhar). O tal senhor MM começou por insultar este deputado municipal dizendo que "já deve ter fumado o cachimbo da paz com algum cara pálida e está na posição que se encontra", é no mínimo bárbaro tal afirmação, vindo de uma bancada onde militam muitos sindicalistas. Não se resumindo ao cachimbo (parece que o outro até nem fuma), chama mentiroso a um vereador do executivo (que até tem um blog e não está nas nossas ligações, por desleixo da malta) por algo que ele escreveu no seu blog.
Bom, barraca armada nos passos do concelho. O vereador pede a palavra e o presidente da câmara recusa. O homem insiste e nada. As bancadas da oposição chamam a atenção para a defesa da honra do homem, por fim lá teve direito a falar, mas comedido nas suas palavras porque estava sempre a ser interrompido.
Se a coisa correu assim, acho que o partido da maioria absoluta deveria dar umas dicas ao senhor MM de como intervir (ou será que aquelas já são as dicas?). Fogem aos assuntos recorrendo aos ataques pessoais. Quero saber como será quando o PDM tiver de ser aprovado na assembleia.
Aos vereadores da oposição aconselho a deixar uma jarra de flores no seu lugar (De_coração) e abandonarem a sala, pois isto de ser saco de encher não deve ser facil.
Aos deputados da oposição acho melhor levarem "colete de balas" porque os tiros já não caem nas politícas mas sim no pelo.
Metro ou Litro?
Esta de andar pelas linhas do Metro tem que se lhe diga.
Observem o video das camaras de segurança, eh eh eh.
Apresentação do "Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro"
Hoje, dia 28 de Novembro pelas 18:30 na Associação 25 de Abril, em Lisboa, irá decorrer a apresentação do referido dicionário da autoria de Vítor Barros com apresentação a cargo do Dr. Amadeu Ferreira (transmontano, professor de Direito e emérito estudioso da língua mirandesa).
Com jantar à transmontana antes ou depois da apresentação, conforme correrem as coisas.
Fica desde já o agradecimento ao autor pelo convite efectuado à equipa do Arre Macho.
Podem ler em baixo o prefácio do dicionário.
"Entre as variedades diatópicas de uma língua, distinguimos, na esteira de Paiva Boléo, dialectos e falares.
Dialecto é, para nós, um sistema de sinais que se afasta de uma língua comum; regra geral, confinado a um espaço geográfico bem delimitado, sem se distinguir profundamente de outros dialectos da mesma origem.
Falar é, em nosso entendimento, uma variedade regional da língua norma, sem o grau de coerência do dialecto, normalmente coincidente, em termos relativos, com a área administrativa.
Dito de outro modo: a distinção entre dialecto e falar faz-se atendendo ao grau de afastamento em relação à língua padrão.
Esta concepção de dialecto e de falar implica a inserção do barrosão – um subfalar do falar transmontano - no presente trabalho; e, pela mesma razão, não contempla as particularidades linguísticas do guadramilês, do mirandês (na actualidade, detentor do estatuto de língua), do rionorês e do sendinês – dialectos leoneses, na opinião avalizada de Lindley Cintra.
A recolha vocabular aqui registada - a mais exaustiva de todas as recolhas efectuadas até ao presente -, de vocábulos em uso ou já usados, promana de fontes diversas, desde aquelas que a nossa vivência de outrora em Trás-os-Montes forneceu, passando pelo trabalho de campo desenvolvido, até ao trabalho informático e à diligente consulta das obras referenciadas na bibliografia.
Importa esclarecer que esta seara vocabular, dirigida à generalidade da população escolarizada e não aos filólogos, está organizada nos moldes de um dicionário tradicional, sem preocupações etimológicas. No final das definições encontra-se a sigla correspondente ao nome do autor da fonte bibliográfica consultada – optámos por mencionar apenas um autor, mesmo quando, com o mesmo valor semântico, o vocábulo ou a expressão se encontram referenciados em vários autores - e/ou o local de origem do(s) nosso(s) informador(es) – a indicação da localidade ou localidades destes não significa que a palavra em questão não seja de uso corrente noutros lugares de Trás-os-Montes e Alto Douro ou até comum à região.
O nosso trabalho não esgota, obviamente, a riqueza do falar transmontano e altoduriense; pelo contrário, estamos cônscios das suas limitações intrínsecas. Para nós, ele é apenas um contributo – o consulente aquilatará da sua utilidade e do seu valor – àqueles que, mais sapientes do que o autor destas linhas, pretendam alargar o presente repositório. Todavia, pensamos que é um significativo subsídio para a defesa do nosso património linguístico, que fica, assim, mais consolidado.
Cabe ao poder local e à sociedade civil privilegiar e incentivar o uso do nosso léxico, pois com o esforço de todos os que têm vontade, capacidade, saber e poder é possível firmar a nossa individualidade colectiva. Trabalhemos em conjunto, e sejamos dignos dos nossos antepassados e dos nossos vindouros."
Vítor Barros
Com jantar à transmontana antes ou depois da apresentação, conforme correrem as coisas.
Fica desde já o agradecimento ao autor pelo convite efectuado à equipa do Arre Macho.
Podem ler em baixo o prefácio do dicionário.
"Entre as variedades diatópicas de uma língua, distinguimos, na esteira de Paiva Boléo, dialectos e falares.
Dialecto é, para nós, um sistema de sinais que se afasta de uma língua comum; regra geral, confinado a um espaço geográfico bem delimitado, sem se distinguir profundamente de outros dialectos da mesma origem.
Falar é, em nosso entendimento, uma variedade regional da língua norma, sem o grau de coerência do dialecto, normalmente coincidente, em termos relativos, com a área administrativa.
Dito de outro modo: a distinção entre dialecto e falar faz-se atendendo ao grau de afastamento em relação à língua padrão.
Esta concepção de dialecto e de falar implica a inserção do barrosão – um subfalar do falar transmontano - no presente trabalho; e, pela mesma razão, não contempla as particularidades linguísticas do guadramilês, do mirandês (na actualidade, detentor do estatuto de língua), do rionorês e do sendinês – dialectos leoneses, na opinião avalizada de Lindley Cintra.
A recolha vocabular aqui registada - a mais exaustiva de todas as recolhas efectuadas até ao presente -, de vocábulos em uso ou já usados, promana de fontes diversas, desde aquelas que a nossa vivência de outrora em Trás-os-Montes forneceu, passando pelo trabalho de campo desenvolvido, até ao trabalho informático e à diligente consulta das obras referenciadas na bibliografia.
Importa esclarecer que esta seara vocabular, dirigida à generalidade da população escolarizada e não aos filólogos, está organizada nos moldes de um dicionário tradicional, sem preocupações etimológicas. No final das definições encontra-se a sigla correspondente ao nome do autor da fonte bibliográfica consultada – optámos por mencionar apenas um autor, mesmo quando, com o mesmo valor semântico, o vocábulo ou a expressão se encontram referenciados em vários autores - e/ou o local de origem do(s) nosso(s) informador(es) – a indicação da localidade ou localidades destes não significa que a palavra em questão não seja de uso corrente noutros lugares de Trás-os-Montes e Alto Douro ou até comum à região.
O nosso trabalho não esgota, obviamente, a riqueza do falar transmontano e altoduriense; pelo contrário, estamos cônscios das suas limitações intrínsecas. Para nós, ele é apenas um contributo – o consulente aquilatará da sua utilidade e do seu valor – àqueles que, mais sapientes do que o autor destas linhas, pretendam alargar o presente repositório. Todavia, pensamos que é um significativo subsídio para a defesa do nosso património linguístico, que fica, assim, mais consolidado.
Cabe ao poder local e à sociedade civil privilegiar e incentivar o uso do nosso léxico, pois com o esforço de todos os que têm vontade, capacidade, saber e poder é possível firmar a nossa individualidade colectiva. Trabalhemos em conjunto, e sejamos dignos dos nossos antepassados e dos nossos vindouros."
Vítor Barros
segunda-feira, novembro 27, 2006
Mário Cesariny de Vasconcellos
Em Jeito de Homenagem ao grande poeta Surrealista, ficam-nos as palavras de um ser maior.
Sei que agora estás a rir muito de nós, M.C.V., no teu sofá confortável num bar decadente, algures entre o Bairro Alto do Céu e a Graça do Inferno!
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
Sei que agora estás a rir muito de nós, M.C.V., no teu sofá confortável num bar decadente, algures entre o Bairro Alto do Céu e a Graça do Inferno!
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
sexta-feira, novembro 24, 2006
Assembleia Municipal
Vai realizar-se hoje pelas 21:30 mais uma sessão da Assembleia Municipal da Moita. Com o PDM ainda na calha, vai ser de gritos certamente.
terça-feira, novembro 21, 2006
Wim Mertens a não perder!
.
Baixa da Banheira - Forum JM Figueiredo
WIM MERTENS em CONCERTO
No Fórum José Manuel Figueiredo, dia 1 de Dezembro
Depois da bem sucedida tour do ano passado, Wim Mertens volta a Portugal para uma digressão, na qual estão incluídas varias cidades do País.Esta tournée celebra os seus 25 anos de carreira e coincide com a apresentação do seu novo albúm “partes extra partes”, último trabalho da longa obra deste músico e compositor belga. Ler moldura
Baixa da Banheira - Forum JM Figueiredo
WIM MERTENS em CONCERTO
No Fórum José Manuel Figueiredo, dia 1 de Dezembro
Depois da bem sucedida tour do ano passado, Wim Mertens volta a Portugal para uma digressão, na qual estão incluídas varias cidades do País.Esta tournée celebra os seus 25 anos de carreira e coincide com a apresentação do seu novo albúm “partes extra partes”, último trabalho da longa obra deste músico e compositor belga. Ler moldura
Jeremias
.
Jeremias Costa tem no olhar uma saudade profunda dos arrozais da sua Bafatá natal, situada bem no coração da pátria sonhada por Amílcar Cabral, há perto de meio século. Em Jeremias transparece o orgulho das raízes, numa região vital para a alimentação do seu povo, um povo sofrido mas que mantém a cabeça levantada no meio das tormentas. Um povo que não se dobrou à metralha nem à fome, apesar da imensa superioridade militar do colonialismo que chegou a mobilizar para a Guiné, no auge da guerra e da governação spinolista, cerca de 40 mil homens. A Guiné onde, em 1973, a guerra estava política e militarmente ganha pelo PAIGC e que foi o verdadeiro sepulcro do regime colonial-fascista. A este povo devemos, mais do que a nenhum outro e pelo menos tanto como a nós mesmos, esse “dia inicial, inteiro e limpo”: o 25 de Abril de 1974.
Jeremias era então um menino de 15 anos. Reservado, não conta façanhas desses tempos heróicos, mas facilmente se percebe que pertenceu àquela geração de homens que não tiveram tempo para ser crianças. Viveu, como tantos outros, a esperança da libertação e as dificuldades do percurso, umas naturais, outras nem por isso: a instabilidade político-militar, o desemprego e a fome, a gangrena da corrupção e do despotismo que destruíram mil sonhos. Não será caso isolado, bem pelo contrário: basta olhar para os vizinhos do Senegal e da Guiné-Conakri. Mas cada drama é sempre um drama: a Guiné-Bissau tornou-se um país de emigrantes, por razões económicas mas também humanitárias.
Após o golpe militar de 1998, Jeremias foi para o Senegal trabalhar mas regressou a casa, ao fim de dois anos. Dobrados os 40, não se deu por vencido e embarcou para novo sonho duma vida melhor. O coração pesava-lhe como chumbo quando deixou a Mãe África e aterrou no aeroporto de Lisboa, no final de 2002 – terra estranha, onde só a língua lhe era familiar.
Depois de algumas aventuras, chegou ao Algarve ao romper da Primavera de 2003, não como turista mas para trabalhar nas obras dos paraísos artificiais que, no Verão, servem de lazer a portugueses endinheirados e às muitas e desvairadas gentes com estranhos dialectos do Norte da Europa. E, nessas obras, foi vendo adiada a promessa de um contrato de trabalho que seria a porta da legalização e para mandar reunir a família que ficara na Guiné.
Ajudado por companheiros desta vida difícil, enganado por outros tantos, incluindo alguns patrícios metidos em subempreiteiros mas que faziam tudo na candonga, a esperança do tal contrato salvador ia ficando cada vez mais longínqua. Até que um dia apareceu o Pereira, homem de posses e de boas falas: “eu vou tirar-te desta miséria, vais tomar conta do meu couto de caça no Alentejo”. Jeremias, entretanto baptizado de “Mamadu” pelo patrão e pelos amigos, achou fartura demais; mas nada tinha a perder e lá partiu para nova aventura. Natural de um país de outras caçadas, a gazelas e “bocas brancas”, chegou às faldas da serra de Alcaria Ruiva, em pleno concelho de Mértola, a um lugar a que alguém com muito poder já chamou de “Alentejo profundo”.
Sozinho no monte, via os dias passar. Por companhia, além dos cães, só tinha companheiros de ocasião no café da aldeia onde, passados três anos, todos o estimam – “até as crianças”, diz sem esconder uma pontinha de orgulho. O patrão, de vez em quando, aparecia com os amigos, à caça de perdizes, lebres ou para uma montaria aos javalis; entre patuscadas, lá ia pagando o combinado. Chegou a dar-lhe um contrato por cinco anos; mas era só um papel, sem o carimbo do Ministério do Trabalho e sem validade. A legalização parecia cada vez mais longe. Em Maio de 2004, surgiu uma inscrição para os imigrantes chegados a Portugal até Março de 2003. Jeremias soube e mandou um postal pelo correio, às escondidas do patrão. Este, cada vez mais desconfiado, começou a levá-lo para as obras no Algarve, em Ayamonte e Huelva - “ainda assim, não vão os fiscais aparecer…”.
Até que, em meados de 2005, Jeremias meteu pés ao caminho. Foi a Beja, à associação de que lhe falaram lá no café e à Inspecção de Trabalho. Demorou mas arrecadou. Há dias, recebeu uma carta para ir a Beja pôr o Visto – e até o tal contrato por carimbar serviu… A inspectora de trabalho também apareceu lá no monte. Furioso, ao saber da novidade, o Pereira trouxe um advogado: queriam obrigá-lo a assinar um papel em que aceitava ser deportado… “Se não assinares, eu ponho-te na Guiné em cinco dias!”, ameaçou. Jeremias teve então o supremo gozo de lhe mostrar o Visto e responder: “Patrão, agora sou um homem livre”. Esta história vai continuar, no tribunal.
Alberto Matos
Jeremias Costa tem no olhar uma saudade profunda dos arrozais da sua Bafatá natal, situada bem no coração da pátria sonhada por Amílcar Cabral, há perto de meio século. Em Jeremias transparece o orgulho das raízes, numa região vital para a alimentação do seu povo, um povo sofrido mas que mantém a cabeça levantada no meio das tormentas. Um povo que não se dobrou à metralha nem à fome, apesar da imensa superioridade militar do colonialismo que chegou a mobilizar para a Guiné, no auge da guerra e da governação spinolista, cerca de 40 mil homens. A Guiné onde, em 1973, a guerra estava política e militarmente ganha pelo PAIGC e que foi o verdadeiro sepulcro do regime colonial-fascista. A este povo devemos, mais do que a nenhum outro e pelo menos tanto como a nós mesmos, esse “dia inicial, inteiro e limpo”: o 25 de Abril de 1974.
Jeremias era então um menino de 15 anos. Reservado, não conta façanhas desses tempos heróicos, mas facilmente se percebe que pertenceu àquela geração de homens que não tiveram tempo para ser crianças. Viveu, como tantos outros, a esperança da libertação e as dificuldades do percurso, umas naturais, outras nem por isso: a instabilidade político-militar, o desemprego e a fome, a gangrena da corrupção e do despotismo que destruíram mil sonhos. Não será caso isolado, bem pelo contrário: basta olhar para os vizinhos do Senegal e da Guiné-Conakri. Mas cada drama é sempre um drama: a Guiné-Bissau tornou-se um país de emigrantes, por razões económicas mas também humanitárias.
Após o golpe militar de 1998, Jeremias foi para o Senegal trabalhar mas regressou a casa, ao fim de dois anos. Dobrados os 40, não se deu por vencido e embarcou para novo sonho duma vida melhor. O coração pesava-lhe como chumbo quando deixou a Mãe África e aterrou no aeroporto de Lisboa, no final de 2002 – terra estranha, onde só a língua lhe era familiar.
Depois de algumas aventuras, chegou ao Algarve ao romper da Primavera de 2003, não como turista mas para trabalhar nas obras dos paraísos artificiais que, no Verão, servem de lazer a portugueses endinheirados e às muitas e desvairadas gentes com estranhos dialectos do Norte da Europa. E, nessas obras, foi vendo adiada a promessa de um contrato de trabalho que seria a porta da legalização e para mandar reunir a família que ficara na Guiné.
Ajudado por companheiros desta vida difícil, enganado por outros tantos, incluindo alguns patrícios metidos em subempreiteiros mas que faziam tudo na candonga, a esperança do tal contrato salvador ia ficando cada vez mais longínqua. Até que um dia apareceu o Pereira, homem de posses e de boas falas: “eu vou tirar-te desta miséria, vais tomar conta do meu couto de caça no Alentejo”. Jeremias, entretanto baptizado de “Mamadu” pelo patrão e pelos amigos, achou fartura demais; mas nada tinha a perder e lá partiu para nova aventura. Natural de um país de outras caçadas, a gazelas e “bocas brancas”, chegou às faldas da serra de Alcaria Ruiva, em pleno concelho de Mértola, a um lugar a que alguém com muito poder já chamou de “Alentejo profundo”.
Sozinho no monte, via os dias passar. Por companhia, além dos cães, só tinha companheiros de ocasião no café da aldeia onde, passados três anos, todos o estimam – “até as crianças”, diz sem esconder uma pontinha de orgulho. O patrão, de vez em quando, aparecia com os amigos, à caça de perdizes, lebres ou para uma montaria aos javalis; entre patuscadas, lá ia pagando o combinado. Chegou a dar-lhe um contrato por cinco anos; mas era só um papel, sem o carimbo do Ministério do Trabalho e sem validade. A legalização parecia cada vez mais longe. Em Maio de 2004, surgiu uma inscrição para os imigrantes chegados a Portugal até Março de 2003. Jeremias soube e mandou um postal pelo correio, às escondidas do patrão. Este, cada vez mais desconfiado, começou a levá-lo para as obras no Algarve, em Ayamonte e Huelva - “ainda assim, não vão os fiscais aparecer…”.
Até que, em meados de 2005, Jeremias meteu pés ao caminho. Foi a Beja, à associação de que lhe falaram lá no café e à Inspecção de Trabalho. Demorou mas arrecadou. Há dias, recebeu uma carta para ir a Beja pôr o Visto – e até o tal contrato por carimbar serviu… A inspectora de trabalho também apareceu lá no monte. Furioso, ao saber da novidade, o Pereira trouxe um advogado: queriam obrigá-lo a assinar um papel em que aceitava ser deportado… “Se não assinares, eu ponho-te na Guiné em cinco dias!”, ameaçou. Jeremias teve então o supremo gozo de lhe mostrar o Visto e responder: “Patrão, agora sou um homem livre”. Esta história vai continuar, no tribunal.
Alberto Matos
segunda-feira, novembro 20, 2006
Moita vai abrir primeira casa de apoio...
...a portadores de deficiências raras:
"A primeira casa em Portugal para acolher e apoiar pessoas com deficiências mentais e raras, que afectam perto de sete mil portugueses, vai ser construída na Moita, a partir do primeiro trimestre do próximo ano, avançou hoje a Raríssimas - Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras."
Segundo o "Publico". Continue a ler...
"A primeira casa em Portugal para acolher e apoiar pessoas com deficiências mentais e raras, que afectam perto de sete mil portugueses, vai ser construída na Moita, a partir do primeiro trimestre do próximo ano, avançou hoje a Raríssimas - Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras."
Segundo o "Publico". Continue a ler...
quinta-feira, novembro 16, 2006
Zangaram-se As Comadres
.
Mas que diabo. Logo agora...
Carmona Rodrigues (PSD) destitui Maria José Nogueira Pinto (CDS/PP) de todos os seus pelouros na C. M. Lisboa. Parece que a Tia violou (ai credo), "um dever de lealdade e de confiança elementar na relação entre pessoas que estão unidas por um acordo político".
Votar contra dá nestas coisas. Talvez por isso a oposição cá pelo nosso concelho não tenha pelouros. Já viram a trabalheira que dava ao nosso Presidente Lobo?
Nada mais simples do que ter o rebanho todo coordenado e a gritar (em surdina) a uma só voz.
Mas que diabo. Logo agora...
Carmona Rodrigues (PSD) destitui Maria José Nogueira Pinto (CDS/PP) de todos os seus pelouros na C. M. Lisboa. Parece que a Tia violou (ai credo), "um dever de lealdade e de confiança elementar na relação entre pessoas que estão unidas por um acordo político".
Votar contra dá nestas coisas. Talvez por isso a oposição cá pelo nosso concelho não tenha pelouros. Já viram a trabalheira que dava ao nosso Presidente Lobo?
Nada mais simples do que ter o rebanho todo coordenado e a gritar (em surdina) a uma só voz.
terça-feira, novembro 14, 2006
Neblinas e Negociatas
.
Se a memória não me falha, foi por volta de 1997 que o Governo e o Estado assinaram um protocolo com o Grupo Mello, onde está consignado que o quadro de trabalhadores da Lisnave deveria ter 1339 trabalhadores. Mas ao que parece já só restam 400 e confrontados com o despedimento colectivo em Setembro de 2007.
Se existe a necessidade de formar e desenvolver novos postos de trabalho, como justificam o despedimento dos operários que já ali trabalham?
Não recebeu o Grupo Mello contrapartidas quando ficou com o estaleiro da Mitrena?
Não deve o Governo exigir que respeitem o protocolo assinado em 1997 salvaguardando os cerca de 400 operários?
Ou isto é mesmo para sacar guito à UE, ou é do nevoeiro que anda por aqui a pairar, não me deixando ver com clareza estas "negociatas".
(clique na imagem para melhor visualização)
Como já tinha referido no post anterior, cá está o anuncio à dita formação, que saiu no jornal "Record" de segunda-feira, na página 40.
Se a memória não me falha, foi por volta de 1997 que o Governo e o Estado assinaram um protocolo com o Grupo Mello, onde está consignado que o quadro de trabalhadores da Lisnave deveria ter 1339 trabalhadores. Mas ao que parece já só restam 400 e confrontados com o despedimento colectivo em Setembro de 2007.
Se existe a necessidade de formar e desenvolver novos postos de trabalho, como justificam o despedimento dos operários que já ali trabalham?
Não recebeu o Grupo Mello contrapartidas quando ficou com o estaleiro da Mitrena?
Não deve o Governo exigir que respeitem o protocolo assinado em 1997 salvaguardando os cerca de 400 operários?
Ou isto é mesmo para sacar guito à UE, ou é do nevoeiro que anda por aqui a pairar, não me deixando ver com clareza estas "negociatas".
segunda-feira, novembro 13, 2006
Formação Profissional Na Mitrena
.
A Lisnave está a promover vários cursos de formação profissional nos estaleiros da Mitrena, para residentes no concelho de Setúbal.
Como todos os trabalhadores já receberam a carta para rescisão de contrato amigavel até Setembro de 2007 e despedimento colectivo a partir daquela data para os que não assinarem a rescisão, é de perguntar se a formação que durará cerca de 18 meses, com direito a estágio, será só para sacar fundos à União Europeia ou se a colocação dos estagiários será feita para Viana do Castelo ou estrangeiro.
Deve ser mais uma forma do nosso governo encaixar uns quantos desempregados nesta epoca e contabilizar como não desempregados. Mas e depois????
Conto mais daqui a pouco dar-vos o anuncio que saiu no jornal.
A Lisnave está a promover vários cursos de formação profissional nos estaleiros da Mitrena, para residentes no concelho de Setúbal.
Como todos os trabalhadores já receberam a carta para rescisão de contrato amigavel até Setembro de 2007 e despedimento colectivo a partir daquela data para os que não assinarem a rescisão, é de perguntar se a formação que durará cerca de 18 meses, com direito a estágio, será só para sacar fundos à União Europeia ou se a colocação dos estagiários será feita para Viana do Castelo ou estrangeiro.
Deve ser mais uma forma do nosso governo encaixar uns quantos desempregados nesta epoca e contabilizar como não desempregados. Mas e depois????
Conto mais daqui a pouco dar-vos o anuncio que saiu no jornal.
sexta-feira, novembro 10, 2006
quinta-feira, novembro 09, 2006
quarta-feira, novembro 08, 2006
Apresentação do Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro
Ora aqui está uma boa notícia. O nosso agradecimento antecipado ao Vitor Barros e o desejo de boa sorte para o lançamento deste dicionário que muita pesquisa deve ter originado.
Caros amigos:
Venho pela presente convidar-vos ao lançamento do «Dicionário do Falar deTrás-os-Montes e Alto Douro», da minha autoria, na Associação 25 de Abril,Lisboa, dia 28 de Novembro, pelas 18,30 horas.
A apresentação do livro será feita pelo Dr. Amadeu Ferreira, transmontano,professor de Direito e emérito estudioso da língua mirandesa.
Se as coisas correrem dentro da normalidade, haverá, antes ou depois, um jantar à transmontana.
É evidente que os jornais e bloguistas convidados do concelho da Moita e alguns jornais transmontanos receberão o Dicionário como oferta.
Atenciosamente
Vítor Barros
Certamente uma noite de Terça-feira bem passada.
Caros amigos:
Venho pela presente convidar-vos ao lançamento do «Dicionário do Falar deTrás-os-Montes e Alto Douro», da minha autoria, na Associação 25 de Abril,Lisboa, dia 28 de Novembro, pelas 18,30 horas.
A apresentação do livro será feita pelo Dr. Amadeu Ferreira, transmontano,professor de Direito e emérito estudioso da língua mirandesa.
Se as coisas correrem dentro da normalidade, haverá, antes ou depois, um jantar à transmontana.
É evidente que os jornais e bloguistas convidados do concelho da Moita e alguns jornais transmontanos receberão o Dicionário como oferta.
Atenciosamente
Vítor Barros
Certamente uma noite de Terça-feira bem passada.
Quem sabe, vai longe…
.
Nos semanários do último fim-de-semana chamava a atenção, pelo seu impacto, o anúncio duma conhecida instituição bancária: uma enorme via BUS (adaptada ao nome do banco) em fundo verde, com destino a Madrid e com os dizeres: “Quem sabe, chega mais longe…”. Coisa de criativos, geralmente pagos a peso de ouro. À primeira vista parecia tratar-se de publicidade ao TGV ou a um meio de transporte ainda mais modernista que se move à velocidade da luz ou do pensamento. Mas era mesmo um banco e a imagem não é deslocada: ao simples bater duma tecla, os capitais circulam instantaneamente entre bancos e bolsas de todo o mundo, numa ciranda de especulação financeira que dá lucros fabulosos a uns poucos, à custa da desgraça de boa parte da humanidade.
Escrúpulos morais e políticos à parte (para quem conseguir separar o inseparável), num período em que a nossa auto-estima tem andado por baixo, poderíamos até orgulhar-nos de ter pelo menos um banco e uma equipa de criativos que dá brado em Espanha. Eis que um balde de água gelada caiu sobre este assomo de orgulho nacional: então não é que estamos a falar do mesmíssimo banco que, na passada quinta-feira, viu as suas instalações na Calle Serrano, em Madrid, invadidas por dezenas de agentes da Guardia Civil, da Fiscalia Anticorrupção e das Finanças, ás ordens do famoso juiz Baltazar Garzón? Não se trata de um sonho nem de um filme de Pedro Almodôvar, mas da pura e dura realidade.
Haverá quem se interrogue se não se trata de uma tenebrosa manobra castelhana para abalar ainda mais o moral das “nossas tropas”. Mas logo um comunicado veio sossegar os espíritos inquietos: as investigações desencadeadas visaram clientes e não o próprio banco, sendo bloqueadas contas com um saldo global de 5,5 milhões € – coisa pouca, como esclareceu o banqueiro Ricardo Salgado – no âmbito de um processo por fraude fiscal que, em Espanha, já atinge 1800 milhões de euros. A desfaçatez é notável: 1 milhão e cem mil contos, uma insignificância para quem está habituado a olhar o mundo de cima. Além disso, a investigação “visa apenas os clientes”. O banco, coitadinho, apenas lhes oferecia a via BUS para o voo instantâneo de milhões de euros. Como aquele detergente que LAVA MAIS BRANCO – e se a roupa saiu rasgada da máquina, a culpa é da costureira…
O que torna esta história verdadeiramente cosmopolita e excitante é que os fundos foram retirados de Espanha através de uma rede de contas, cujos titulares eram sociedades trust criadas na Madeira e noutros paraísos fiscais. Daí “o dinheiro era enviado a outras entidades bancárias no estrangeiro [nomeadamente em França] para, finalmente, através do Luxemburgo, voltar a entrar em entidades bancárias em Espanha, mas no nome de sociedades não residentes. A estrutura destas sociedades impede normalmente que se conheça o verdadeiro dono, já que à frente está um gestor ou testa-de-ferro cuja localização é de extrema dificuldade”, sublinha o comunicado da Guardia Civil.
Curiosamente, num mundo cada vez mais global, a filial deste banco no Funchal “responsabilizava-se unicamente por apresentar contas perante as autoridades ficais portuguesas”. Patriotismo serôdio ou mero expediente para empatar a investigação de um esquema de evasão fiscal que remonta, pelo menos, a meados de 2004? O desenrolar das investigações, de âmbito internacional e conduzidas pelo juiz Baltazar Garzón, promete revelações escaldantes…
Portugal surge, assim, duplamente associado a este processo: através dum banco e do offshore da Madeira, região muito badalada a propósito da nova Lei das Finanças Regionais. O desvario verbal de AJJ e de alguns acólitos que ameaçam “reactivar a FLAMA”, não pode esconder o essencial: a Madeira perde centenas de milhões de euros do próximo Quadro Comunitário de Apoio e do Estado devido ao empolamento do seu rendimento per capita por capitais que circulam na zona franca e a colocam artificialmente a um nível de desenvolvimento próximo do da Grande Lisboa. Capitais sem rosto e sem rasto que nada contribuem para o desenvolvimento regional e a melhoria das condições de vida na Madeira que, na realidade, está mais próxima dos Açores ou do Alentejo.
Espantoso é que, na discussão de um Orçamento que se anuncia de rigor, o governo nada faça para acabar com esta vergonha que é a principal fonte de evasão fiscal da banca e coloca Portugal nas rotas do crime internacional. Aqui ao lado, tais práticas são tratadas como casos de polícia; por cá, ainda ganham a taluda. Quem sabe, sabe…
Alberto Matos
Nos semanários do último fim-de-semana chamava a atenção, pelo seu impacto, o anúncio duma conhecida instituição bancária: uma enorme via BUS (adaptada ao nome do banco) em fundo verde, com destino a Madrid e com os dizeres: “Quem sabe, chega mais longe…”. Coisa de criativos, geralmente pagos a peso de ouro. À primeira vista parecia tratar-se de publicidade ao TGV ou a um meio de transporte ainda mais modernista que se move à velocidade da luz ou do pensamento. Mas era mesmo um banco e a imagem não é deslocada: ao simples bater duma tecla, os capitais circulam instantaneamente entre bancos e bolsas de todo o mundo, numa ciranda de especulação financeira que dá lucros fabulosos a uns poucos, à custa da desgraça de boa parte da humanidade.
Escrúpulos morais e políticos à parte (para quem conseguir separar o inseparável), num período em que a nossa auto-estima tem andado por baixo, poderíamos até orgulhar-nos de ter pelo menos um banco e uma equipa de criativos que dá brado em Espanha. Eis que um balde de água gelada caiu sobre este assomo de orgulho nacional: então não é que estamos a falar do mesmíssimo banco que, na passada quinta-feira, viu as suas instalações na Calle Serrano, em Madrid, invadidas por dezenas de agentes da Guardia Civil, da Fiscalia Anticorrupção e das Finanças, ás ordens do famoso juiz Baltazar Garzón? Não se trata de um sonho nem de um filme de Pedro Almodôvar, mas da pura e dura realidade.
Haverá quem se interrogue se não se trata de uma tenebrosa manobra castelhana para abalar ainda mais o moral das “nossas tropas”. Mas logo um comunicado veio sossegar os espíritos inquietos: as investigações desencadeadas visaram clientes e não o próprio banco, sendo bloqueadas contas com um saldo global de 5,5 milhões € – coisa pouca, como esclareceu o banqueiro Ricardo Salgado – no âmbito de um processo por fraude fiscal que, em Espanha, já atinge 1800 milhões de euros. A desfaçatez é notável: 1 milhão e cem mil contos, uma insignificância para quem está habituado a olhar o mundo de cima. Além disso, a investigação “visa apenas os clientes”. O banco, coitadinho, apenas lhes oferecia a via BUS para o voo instantâneo de milhões de euros. Como aquele detergente que LAVA MAIS BRANCO – e se a roupa saiu rasgada da máquina, a culpa é da costureira…
O que torna esta história verdadeiramente cosmopolita e excitante é que os fundos foram retirados de Espanha através de uma rede de contas, cujos titulares eram sociedades trust criadas na Madeira e noutros paraísos fiscais. Daí “o dinheiro era enviado a outras entidades bancárias no estrangeiro [nomeadamente em França] para, finalmente, através do Luxemburgo, voltar a entrar em entidades bancárias em Espanha, mas no nome de sociedades não residentes. A estrutura destas sociedades impede normalmente que se conheça o verdadeiro dono, já que à frente está um gestor ou testa-de-ferro cuja localização é de extrema dificuldade”, sublinha o comunicado da Guardia Civil.
Curiosamente, num mundo cada vez mais global, a filial deste banco no Funchal “responsabilizava-se unicamente por apresentar contas perante as autoridades ficais portuguesas”. Patriotismo serôdio ou mero expediente para empatar a investigação de um esquema de evasão fiscal que remonta, pelo menos, a meados de 2004? O desenrolar das investigações, de âmbito internacional e conduzidas pelo juiz Baltazar Garzón, promete revelações escaldantes…
Portugal surge, assim, duplamente associado a este processo: através dum banco e do offshore da Madeira, região muito badalada a propósito da nova Lei das Finanças Regionais. O desvario verbal de AJJ e de alguns acólitos que ameaçam “reactivar a FLAMA”, não pode esconder o essencial: a Madeira perde centenas de milhões de euros do próximo Quadro Comunitário de Apoio e do Estado devido ao empolamento do seu rendimento per capita por capitais que circulam na zona franca e a colocam artificialmente a um nível de desenvolvimento próximo do da Grande Lisboa. Capitais sem rosto e sem rasto que nada contribuem para o desenvolvimento regional e a melhoria das condições de vida na Madeira que, na realidade, está mais próxima dos Açores ou do Alentejo.
Espantoso é que, na discussão de um Orçamento que se anuncia de rigor, o governo nada faça para acabar com esta vergonha que é a principal fonte de evasão fiscal da banca e coloca Portugal nas rotas do crime internacional. Aqui ao lado, tais práticas são tratadas como casos de polícia; por cá, ainda ganham a taluda. Quem sabe, sabe…
Alberto Matos
Com Atraso Mas Divulgado
.
O correio do Arre Macho tem andado estranho, muitos executáveis aparecem por aqui remetidos de parte incerta (imaginem o que trazem os executáveis), mas sempre com boa disposição lá vamos sorrindo das malícias. Toda esta introdução para dar entrada a uma nota de divulgação do lançamento do video com a entrevista do nosso "Paineleiro" cá da zona, Luís Guerreiro. Como já tinha referido, o nosso correio anda maroto e a mensagem de divulgação foi parar aos confins... nem imagino onde, pois na lixeira também não estava. No entanto os nossos "camaradas" do outro lado da ribeira divulgaram o mail ao qual faço referência, podem ler aqui.
O correio do Arre Macho tem andado estranho, muitos executáveis aparecem por aqui remetidos de parte incerta (imaginem o que trazem os executáveis), mas sempre com boa disposição lá vamos sorrindo das malícias. Toda esta introdução para dar entrada a uma nota de divulgação do lançamento do video com a entrevista do nosso "Paineleiro" cá da zona, Luís Guerreiro. Como já tinha referido, o nosso correio anda maroto e a mensagem de divulgação foi parar aos confins... nem imagino onde, pois na lixeira também não estava. No entanto os nossos "camaradas" do outro lado da ribeira divulgaram o mail ao qual faço referência, podem ler aqui.
segunda-feira, novembro 06, 2006
O Salário Muito Mínimo
.
Todos devem ter presente a imagem de Charlie Chaplin no filme "Tempos Modernos". Se a exploração naqueles tempos era escarnizada pelo próprio "Charlot", o que dizer agora destes tempos de "Simplexes" e afins.
Notícia no Esquerda Net: " GOVERNO NÃO APRESENTA PROPOSTA DE AUMENTO. Reúne hoje o Conselho de Concertação Social para debater o aumento do salário mínimo nacional. O Ministro de Trabalho não irá apresentar nenhuma proposta de aumento. A CGTP propõe 410 euros para o salário mínimo em Janeiro de 2007 e 500 euros em 2010. Portugal é o país em que o salário mínimo é mais baixo na União Europeia a 15. Em relação aos países do alargamento da UE são já mais elevados os salários em Malta e na Eslovénia."
Está tudo dito. Gostava de ver alguns artolas a sobreviver com o salário mínimo.
Todos devem ter presente a imagem de Charlie Chaplin no filme "Tempos Modernos". Se a exploração naqueles tempos era escarnizada pelo próprio "Charlot", o que dizer agora destes tempos de "Simplexes" e afins.
Notícia no Esquerda Net: " GOVERNO NÃO APRESENTA PROPOSTA DE AUMENTO. Reúne hoje o Conselho de Concertação Social para debater o aumento do salário mínimo nacional. O Ministro de Trabalho não irá apresentar nenhuma proposta de aumento. A CGTP propõe 410 euros para o salário mínimo em Janeiro de 2007 e 500 euros em 2010. Portugal é o país em que o salário mínimo é mais baixo na União Europeia a 15. Em relação aos países do alargamento da UE são já mais elevados os salários em Malta e na Eslovénia."
Está tudo dito. Gostava de ver alguns artolas a sobreviver com o salário mínimo.
sexta-feira, novembro 03, 2006
quinta-feira, novembro 02, 2006
Alentejanos de Jaen
.
Na última crónica abordei o tema de Alqueva na relação com a estrutura fundiária. O latifúndio, já de si parasitário, gerador de atraso, de miséria e desemprego durante quase todo o ano em regime de sequeiro, é absolutamente irracional em sistema de regadio – 50 hectares de regadio podem ser mais produtivos que 1000 hectares de sequeiro. Não é por acaso que a velha classe latifundiária, apoiada nos “ultras” do salazarismo, sempre opôs tenaz resistência ao Plano de Rega do Alentejo e, em particular, a Alqueva, pelo menos desde os anos 50. Alguns expoentes desta corrente, como Pequito Rebelo, confessavam o seu temor ao “socialismo por via hidráulica”.
Sem a intervenção do Estado no fomento ao regadio e à criação de unidades de dimensão racional, através de um banco de terras resultante da expropriação a preço justo de quem não as quiser regar, o mercado funciona de forma selvagem. É assim que os latifundiários estão a vender as terras, ainda não regadas mas já valorizadas pela barragem de Alqueva. Em vez de uma agricultura diversificada, ambientalmente sustentável e capaz de atrair uma nova geração de pequenos agricultores, empresas familiares ou cooperativas, a transição do sequeiro para o regadio está a ser feita mantendo o latifúndio. Mas grandes áreas de regadio implicam uma enorme capacidade de investimento e são sinónimos de monocultura – do olival, da vinha, dos citrinos…
Além do problema agrário, Alqueva veio evidenciar as questões agrícolas e culturais do Alentejo. Apesar dos constrangimentos da PAC, são possíveis e cada vez mais necessárias políticas de orientação agrícola que apostem na agricultura biológica e na qualidade alimentar, na excelência dos produtos regionais e na marca Alentejo. Na Europa e a nível global há mercado para este tipo de produtos, depois dos sobressaltos das “vacas loucas”, da gripe aviária, do abuso de hormonas e de transgénicos pelas agro-indústrias de produção intensiva de dinheiro… e de doenças.
A monocultura, ao pôr em risco a biodiversidade, acarreta graves desequilíbrios ambientais. Como é possível o arranque de perto de 600 azinheiras e sobreiros seculares, nas herdades da Caniceira e Monte Espada, para plantio de “oliveiras de aviário”, com aval da Direcção Regional de Agricultura do Alentejo e das câmaras municipais de Aljustrel e Santiago do Cacém? Nem é preciso inventar, basta aprender com a experiência alheia: por exemplo, a dos andaluzes de Jaen (cantados por Paco Ibañez) e de muitas outras terras que ficaram quase desprovidas de matéria orgânica, sujeitas a processos de salinização e erosão muito complicados de travar.
De Espanha não chegam apenas malas carregadas de euros para comprar terras. Na última semana, a Green Peace promoveu uma descida do Guadiana, da nascente até à foz, que deve merecer a nossa reflexão. Entre outras questões já aqui abordadas, ficaram-me na memória as imagens de grandes empreendimentos turísticos, resorts e campos de golfe a norte de Ayamonte, mesmo em frente ao magnífico sapal de Castro Marim. E assaltou-me a dúvida: será isto que se prepara para o regolfo de Alqueva? Quando Sócrates era ministro do Ambiente, o plano de ordenamento foi acusado de ser muito restritivo, em particular por autarquias da zona; com Sócrates primeiro-ministro o limite foi multiplicado por 45, passando de 480 para 22 500 camas, distribuídas por 11 unidades turísticas que podem ter até 2500 camas cada, nos concelhos de Portel, Reguengos de Monsaraz, Mourão, Moura, Serpa e Vidigueira e Serpa.
Na miragem do Grande Lago, não se estará a matar a galinha dos ovos de ouro ainda antes de ela chocar os pintos? Ainda por cima, fruto da poluição dos pesticidas e de esgotos despejados para o Guadiana sem qualquer tratamento, por exemplo em Badajoz, a qualidade da água de Alqueva tem problemas que se podem agravar se estas más práticas não forem travadas e se a carga poluente aumentar no território português. Sem esquecer que, além do uso agrícola e da produção de energia eléctrica, o projecto de fins múltiplos de Alqueva foi justificado pela necessidade de constituir uma reserva estratégica de água para abastecimento às populações.
O turismo só poderá constituir uma mais-valia se respeitar e valorizar o rico património natural e cultural do Alentejo. Numa zona ambientalmente sensível, ainda em processo de adaptação à nova realidade física e a pequenas alterações climáticas, sempre imprevisíveis, a quantidade pode matar a qualidade. Um passo em falso poderá causar danos irreparáveis.
Alberto Matos
Na última crónica abordei o tema de Alqueva na relação com a estrutura fundiária. O latifúndio, já de si parasitário, gerador de atraso, de miséria e desemprego durante quase todo o ano em regime de sequeiro, é absolutamente irracional em sistema de regadio – 50 hectares de regadio podem ser mais produtivos que 1000 hectares de sequeiro. Não é por acaso que a velha classe latifundiária, apoiada nos “ultras” do salazarismo, sempre opôs tenaz resistência ao Plano de Rega do Alentejo e, em particular, a Alqueva, pelo menos desde os anos 50. Alguns expoentes desta corrente, como Pequito Rebelo, confessavam o seu temor ao “socialismo por via hidráulica”.
Sem a intervenção do Estado no fomento ao regadio e à criação de unidades de dimensão racional, através de um banco de terras resultante da expropriação a preço justo de quem não as quiser regar, o mercado funciona de forma selvagem. É assim que os latifundiários estão a vender as terras, ainda não regadas mas já valorizadas pela barragem de Alqueva. Em vez de uma agricultura diversificada, ambientalmente sustentável e capaz de atrair uma nova geração de pequenos agricultores, empresas familiares ou cooperativas, a transição do sequeiro para o regadio está a ser feita mantendo o latifúndio. Mas grandes áreas de regadio implicam uma enorme capacidade de investimento e são sinónimos de monocultura – do olival, da vinha, dos citrinos…
Além do problema agrário, Alqueva veio evidenciar as questões agrícolas e culturais do Alentejo. Apesar dos constrangimentos da PAC, são possíveis e cada vez mais necessárias políticas de orientação agrícola que apostem na agricultura biológica e na qualidade alimentar, na excelência dos produtos regionais e na marca Alentejo. Na Europa e a nível global há mercado para este tipo de produtos, depois dos sobressaltos das “vacas loucas”, da gripe aviária, do abuso de hormonas e de transgénicos pelas agro-indústrias de produção intensiva de dinheiro… e de doenças.
A monocultura, ao pôr em risco a biodiversidade, acarreta graves desequilíbrios ambientais. Como é possível o arranque de perto de 600 azinheiras e sobreiros seculares, nas herdades da Caniceira e Monte Espada, para plantio de “oliveiras de aviário”, com aval da Direcção Regional de Agricultura do Alentejo e das câmaras municipais de Aljustrel e Santiago do Cacém? Nem é preciso inventar, basta aprender com a experiência alheia: por exemplo, a dos andaluzes de Jaen (cantados por Paco Ibañez) e de muitas outras terras que ficaram quase desprovidas de matéria orgânica, sujeitas a processos de salinização e erosão muito complicados de travar.
De Espanha não chegam apenas malas carregadas de euros para comprar terras. Na última semana, a Green Peace promoveu uma descida do Guadiana, da nascente até à foz, que deve merecer a nossa reflexão. Entre outras questões já aqui abordadas, ficaram-me na memória as imagens de grandes empreendimentos turísticos, resorts e campos de golfe a norte de Ayamonte, mesmo em frente ao magnífico sapal de Castro Marim. E assaltou-me a dúvida: será isto que se prepara para o regolfo de Alqueva? Quando Sócrates era ministro do Ambiente, o plano de ordenamento foi acusado de ser muito restritivo, em particular por autarquias da zona; com Sócrates primeiro-ministro o limite foi multiplicado por 45, passando de 480 para 22 500 camas, distribuídas por 11 unidades turísticas que podem ter até 2500 camas cada, nos concelhos de Portel, Reguengos de Monsaraz, Mourão, Moura, Serpa e Vidigueira e Serpa.
Na miragem do Grande Lago, não se estará a matar a galinha dos ovos de ouro ainda antes de ela chocar os pintos? Ainda por cima, fruto da poluição dos pesticidas e de esgotos despejados para o Guadiana sem qualquer tratamento, por exemplo em Badajoz, a qualidade da água de Alqueva tem problemas que se podem agravar se estas más práticas não forem travadas e se a carga poluente aumentar no território português. Sem esquecer que, além do uso agrícola e da produção de energia eléctrica, o projecto de fins múltiplos de Alqueva foi justificado pela necessidade de constituir uma reserva estratégica de água para abastecimento às populações.
O turismo só poderá constituir uma mais-valia se respeitar e valorizar o rico património natural e cultural do Alentejo. Numa zona ambientalmente sensível, ainda em processo de adaptação à nova realidade física e a pequenas alterações climáticas, sempre imprevisíveis, a quantidade pode matar a qualidade. Um passo em falso poderá causar danos irreparáveis.
Alberto Matos
Subscrever:
Mensagens (Atom)