terça-feira, novembro 28, 2006

Apresentação do "Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro"

Hoje, dia 28 de Novembro pelas 18:30 na Associação 25 de Abril, em Lisboa, irá decorrer a apresentação do referido dicionário da autoria de Vítor Barros com apresentação a cargo do Dr. Amadeu Ferreira (transmontano, professor de Direito e emérito estudioso da língua mirandesa).
Com jantar à transmontana antes ou depois da apresentação, conforme correrem as coisas.
Fica desde já o agradecimento ao autor pelo convite efectuado à equipa do Arre Macho.
Podem ler em baixo o prefácio do dicionário.

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"Entre as variedades diatópicas de uma língua, distinguimos, na esteira de Paiva Boléo, dialectos e falares.
Dialecto é, para nós, um sistema de sinais que se afasta de uma língua comum; regra geral, confinado a um espaço geográfico bem delimitado, sem se distinguir profundamente de outros dialectos da mesma origem.
Falar é, em nosso entendimento, uma variedade regional da língua norma, sem o grau de coerência do dialecto, normalmente coincidente, em termos relativos, com a área administrativa.
Dito de outro modo: a distinção entre dialecto e falar faz-se atendendo ao grau de afastamento em relação à língua padrão.
Esta concepção de dialecto e de falar implica a inserção do barrosão – um subfalar do falar transmontano - no presente trabalho; e, pela mesma razão, não contempla as particularidades linguísticas do guadramilês, do mirandês (na actualidade, detentor do estatuto de língua), do rionorês e do sendinês – dialectos leoneses, na opinião avalizada de Lindley Cintra.

A recolha vocabular aqui registada - a mais exaustiva de todas as recolhas efectuadas até ao presente -, de vocábulos em uso ou já usados, promana de fontes diversas, desde aquelas que a nossa vivência de outrora em Trás-os-Montes forneceu, passando pelo trabalho de campo desenvolvido, até ao trabalho informático e à diligente consulta das obras referenciadas na bibliografia.
Importa esclarecer que esta seara vocabular, dirigida à generalidade da população escolarizada e não aos filólogos, está organizada nos moldes de um dicionário tradicional, sem preocupações etimológicas. No final das definições encontra-se a sigla correspondente ao nome do autor da fonte bibliográfica consultada – optámos por mencionar apenas um autor, mesmo quando, com o mesmo valor semântico, o vocábulo ou a expressão se encontram referenciados em vários autores - e/ou o local de origem do(s) nosso(s) informador(es) – a indicação da localidade ou localidades destes não significa que a palavra em questão não seja de uso corrente noutros lugares de Trás-os-Montes e Alto Douro ou até comum à região.
O nosso trabalho não esgota, obviamente, a riqueza do falar transmontano e altoduriense; pelo contrário, estamos cônscios das suas limitações intrínsecas. Para nós, ele é apenas um contributo – o consulente aquilatará da sua utilidade e do seu valor – àqueles que, mais sapientes do que o autor destas linhas, pretendam alargar o presente repositório. Todavia, pensamos que é um significativo subsídio para a defesa do nosso património linguístico, que fica, assim, mais consolidado.

Cabe ao poder local e à sociedade civil privilegiar e incentivar o uso do nosso léxico, pois com o esforço de todos os que têm vontade, capacidade, saber e poder é possível firmar a nossa individualidade colectiva. Trabalhemos em conjunto, e sejamos dignos dos nossos antepassados e dos nossos vindouros."

Vítor Barros

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