quinta-feira, maio 11, 2006

Promiscuidade

Qual é a tua, de dizeres que
o que eu traço aqui
são apenas tormentos pessoais,
dores e sangue, quando no fundo,
a arte poética é conseguir ser
o melhor fingidor no pior dos mundos!

Por isso meu caro, não te deslumbres
com as promíscuas palavras, que se tocam
umas às outras, que se riscam, rasgam e reescrevem,
que dizem amor ou dor com a mesma exactidão
da matemática do olhar.

As penumbras, os passados, a toalha atirada ao chão,
não é derrota, é o suor de não ter conseguido superar
desta vez, sabendo que para a próxima estamos cá, e vivos,
plenos de força exuberante e demoníaca.

sim, porque as palavras é o que nós quisermos fazer delas num dado momento.
hoje apetece-me um sol fresco, para contrariar a canícula dos corpos ausentes.
amanhã quero um sol fogoso, para me aproximar daquela crueldade presente
dos invernos da nossa vida.
tudo uma questão de estações, de estados de vida, numa vida circular, minimal,
mas que se pretende criativa, diferente, inovadora, porque queremos mudar,
não o mundo, mas o espaço á nossa volta, nós próprios, num processo de evolução
contínua. traçamos novas rotas, embora saibamos que há um rumo determinado.
não, não falo de destino. o destino é dos loucos, é dos trágicos. o destino está em Édipo, em Medeia, em Hamlet, em Macbeth. o destino pertence aos grandes homens, que posssuem em si a ambiguidade, o claro-escuro de uma pintura expressionista.

não, e sim, numa sempiterna,numa sempre e eterna rudeza, crueza do desafio, no fastio
estafado de uma língua exigente e presente, viva, aberta, cheia de amor, de faustosidade, de grandiloquência divina.

a promiscuidade de não separar as águas, os homens, as religiões.
somos todos da mesma massa podre, telúrica, mutável. daí as nossas diferenças e contradições. promiscuidade dos corpos vazios.
na mais penetrante imagem sexual, pornográfica, no sexo mais puro e duro, há corpo com matéria, com suor, com desejo. aí, nunca há promiscuidade.
o corpo sem emoção é promíscuo, é falível, desfaz-se depressa.
fim de cita a acção. fim das cidades sem acção! fim da acção sem cidades, sem homens, sem cabeças melancólicas, melodiosas, cinemáticas, melómanas.
o fim é o princípio do mundo!

2 comentários:

Trilby disse...

Deus da Máquina, se eu usasse chapéu tirava-to. Fiquei muito positivamente impressionada com o teu texto. Gostei muito. Parabéns.

Anónimo disse...

não é preciso nem usar chapéu, nem tirá-lo, perante uma alma que discorre palavras no momento, sem querer ser elogiado e admirado, estilo escrita umbiguista, para ser reconhecido. apenas é a vontade de comunicar, de me exprimir. isto advém do meu amor pelas letras, pelos textos, pela poesia, pelo teatro. é no teatro que me encontro, encontrando-vos (público), estando convosco na verdadeira comunicação directa. apenas isso, desejo de me exprimir, expressar, abrir os meus olhares a quem por mim passa com desejo de me ver! obrigado, por isso!