Via A Comuna, por Bruno Góis.
São José Operário não era proletário fabril, nem proletário-bolseiro de investigação científica, mas era carpinteiro, vivia como aqueles, vivia do seu trabalho, e ensinou o ofício ao seu filho Jesus de Nazaré. Já Dom José Policarpo está muito longe de ser operário, sendo cardeal: é um príncipe da Igreja Católica. E embora tenha sido o primeiro José quem deu a linhagem davítica a Jesus, é o segundo José (Policarpo) quem enverga o título de príncipe, enquanto aquele tem por título “Operário”.
Vem isto a propósito das declarações do cardeal patriarca de Lisboa Dom José Policarpo, que disse na homilia em que celebrava o seu cinquentenário de eucaristias que não gosta (sim foi este o verbo, não gosta) que “grupos estejam a fazer reivindicações grupais, de classe”, neste tempo de medidas difíceis. Falou dos sindicatos como fazendo parte desses grupos que colocam “interesses egoístas” à frente do “interesse nacional”, que são “egoístas” num tempo de “medidas difíceis que até nos foram impostas por quem nos emprestou dinheiro”.
O Cardeal coloca-se do lado da Troika, contra os sindicatos e os interesses de classe de quem trabalha. Imaginará o príncipe da Igreja que a esmagadora maioria das cidadãs e dos cidadãos deste país e a esmagadora maioria dos crentes da Igreja Católica espalhados pelo mundo são também elas e eles como São José Operário? Ou seja, que vivem do seu próprio trabalho e não da apropriação do fruto do trabalho alheio? É que há bancos chamados Espírito Santo, há Eduardo e Isabel dos Santos, há famílias inteiras, Sereníssimos Donos de Portugal que vivem da sobrexploração do trabalho alheio.
Ora, foi em nome do seu interesse de classe que os banqueiros mandaram o governo chamar o FMI e companhia, a dita Troika – lembram-se como o governo do PS foi rápido a atender ao pedido dos banqueiros? Que eficiência! Que belo exemplo de política de classe! E como não recordar, que os prejuízos de um banco de ex-ministros do PSD, que os prejuízos do BPN foram nacionalizados (sem a SLN) e que a Troika exigiu a apressada e ruinosa privatização? Como não recordar que os vencedores desse negócio ruinoso, que esse crime contra o “erário público da Nação”, foi em proveito dos de sempre: dos sereníssimos donos e as sereníssimas donas de Portugal? Só me ocorre o Felizmente há Luar de Sttau Monteiro:
"Se há guerra, se temos o inimigo à porta - Aqui d'el-rei que a terra é todos e todos a temos que defender, mas, batido o inimigo, chegada a época das colheitas, quando se trata de comer os frutos da tal terra que é de todos, então não! Então a terra já é só deles!"
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