domingo, março 07, 2010

A Tortura, não é Arte nem CULTURA!!!

Paulo Varela GomesO Ministério da Cultura resolveu criar uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura a pretexto de que lidar touros seria uma tradição cultural portuguesa a preservar. Mas a tradição é mais antiga, do tempo em que humanos e animais lutavam na arena para excitar os nervos da multidão com o sangue e a morte anunciada. A piedade, que é um valor mais antigo do que Cristo, veio, na sua interpretação cristã, salvar disto os humanos. Esqueceu-se, porém, dos animais.

Há um momento nas touradas em que o touro, muito ferido já pelas bandarilhas, o sangue a escorrer, cansado pelos cavalos e as capas, titubeia e parece ir desistir. Afasta-se para as tábuas. Cheira o céu. Vêm os homens e incitam-no. A multidão agita-se e delira com o sangue. O touro sabe que vai morrer. Só os imbecis podem pensar que os animais não sabem. Os empregados dos matadouros, profissionais da sensibilidade embaciada, conhecem o momento em que os animais “cheiram” a morte iminente. Por desespero, coragem ou raiva (não é o mesmo?), o touro arremete pela última vez. Em Espanha morre. Aqui, neste país de maricas, é levado lá para fora para, como é que se diz? ah sim: ser abatido. A multidão retira-se humanamente, portuguesmente, de barriga cheia de cultura portuguesa, na tradição milenar à qual nenhuma piedade chegou.

Os toureiros têm pose que se fartam (e com a qual fartam toda a gente). Pose de hombre, pose de macho. Mas os riscos que de facto correm são infinitamente menores que a sorte que inevitavelmente espera os touros, que o sofrimento e a desorientação que infligem aos touros para o seu próprio prazer e o da multidão. Dá vontade de dizer que quem se porta assim, quem mostra orgulho de se portar assim, tem entre as pernas, e não apenas literalmente, órgãos bem mais pequenos que aqueles que os touros exibem. Os toureiros são corajosos mas entram na arena sabendo que haverá sempre quem os safe, senão à primeira colhida, então à segunda. Às vezes aleijam-se a sério e às vezes morrem, o que talvez prove que os deuses da Antiguidade são justos, vingativos e amigos de todos os animais por igual. Os touros, esses, não têm ninguém que os vá safar em situação de risco, estão absolutamente sós perante a morte. Querem os toureiros ser hombres até ao fim? Experimentem ser tão homens como eram os homens e os animais na Antiguidade: se ficarem no chão, fiquem no chão. Morram na arena. É cultura. A senhora ministra da Cultura certamente compensará tão antigo costume.

Também era da tradição, em Portugal por exemplo, executar em público os condenados, bater nas mulheres, escravizar pessoas. Foi assim durante milénios. Ninguém via mal nenhum nisso a não ser, confusamente, com dúvidas, as próprias vítimas. Até que a piedade, na sua interpretação moderna e laica, acabou com tão veneráveis tradições.

Que será preciso para acabar com a tradição da tourada? Que sobressalto do coração será necessário para despertar em nós a piedade pelos animais?

- Paulo Varela Gomes (Historiador), “Cartas do Interior”, Público, 27.02.2010, P2, p.3.

Na TSF, Bruno Nogueira esclarece melhor o assunto na sua rubrica humorística "Tubo de Ensaio".
É só clicarem no play e ouvir o Tubo de Ensaio com o titulo "Gabriela Bandarilha e Canela"





Podem também assinar a "Petição Contra a criação de uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura" aqui:

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=PETPPA

8 comentários:

RL Produções disse...

Pedrito de Portugal vai vencer o Prémio Pessoa, pois claro.

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Com todo o respeito que espero se tenha por uma opinião, eu gosto de touradas. Penso pelo pouco que tenho constatado (voluntáriamente)em toda a sua envolvência, a tourada é um espectáculo que alimenta muitos lares e dá subsistência (pelo menos) a mais alguns. A mesma diga-se, tem merecido muitos e fortes apoios de pessoas intimamente ligadas à Cultura Portuguesa, e que a sabem compreender, e sobretudo perceber.
Detesto falsas promessas, mentiras e mais mentiras a seguir, e todo um circo de 2fait.divers" que alguns montam em torno de si próprios, para subirem na cena política.

AV disse...

Olha o Vírus do Brocas, começou a atacar aqui no Arre Macho e gosta de touradas, é a maior emergência que eu já vi no esgoto moiteiro !

AV2

Anónimo disse...

Nunca vi nenhuma, mas já ouvi falar. Há fados que falam do tempo em que havia esperas e corridas, cavaleiros e forcados… e toiros. Os velhos falam desses tempos com saudade e dão-me ganas de os ter vivido, antes da lei que proibiu as festas taurinas em todo o país.

Aqui na terra muita coisa mudou desde então, dizem os velhos. Nas "aforas" havia duas ganadarias, hectares e hectares de pasto para os sortudos dos toiros viverem à larga. Acabaram com as toiradas, os ganadeiros faliram, venderam as herdades. Uma delas é hoje um campo de golfe num empreendimento fechado para os ricos da cidade virem gozar “o campo”. A outra foi urbanizada e fizeram dela um bairro de prédios de betão. No centro da rotunda, em memória do que outrora ali se fazia, fizeram uma escultura abstracta, duas barras de ferro ferrugentas e uma lápide “Monumento ao Campino”. Mas qual campino?! No meio dos carros e do cimento?

A velhinha Praça, no centro da terra, foi demolida entre urros de alegria dos amigos dos animais para dar lugar a um "drive-through" do Macdonalds. Dentro do Mac, há fotos de forcados e cavaleiros, em homenagem ao passado. O meu pai chama àquilo uma coisa estranha, “hipocri-qualquer-coisa” e diz que prefere dar-me mesada para ir comer a um sítio mais caro do que saber que vou àquele lugar. Calha bem, também não gosto da comida de plástico…

Quando as corridas acabaram, toda a gente ligada a elas ficou sem trabalho… E era muita… Na minha terra e nas outras em redor. Muitos foram-se embora para Lisboa tentar a vida e a terra está às moscas. Moços que viviam do campo agora andam esquisitos, com ar pálido e magros. A minha mãe diz que não me chegue, que andam na droga e a roubar. Os velhos dizem que no Verão vinha gente de fora para ver os toiros… Agora ninguém cá vem, não se faz nada, a não ser jogar na consola ou torrar ao sol. O meu tio está preso – organizava novilhadas clandestinas, até ao dia em que apareceu a polícia e levou toda a gente. Disse ele: “Mas eu estou a fazer mal a alguém? Vocês, polícias, que lidam com criminosos todos os dias, olhem-me nos olhos e digam-me se sou um deles!”. Não serviu de nada. Lei é lei e polícia também tem bocas para alimentar.

Os campos estão desertos. Já nem cavalos há, pouca gente os cria. Dizem que o toiro está extinto, mas em Lisboa há um, no jardim zoológico. Vive num campo de areia vedado, de dez por dez, e uma vez por dia o tratador deixa-lhe lá ração e água. Pareceu-me um animal triste, sem energia. Custa a acreditar que aquele bicho cabisbaixo fosse um rei. Ao meu pai deu-lhe desgosto ver aquilo, nem foi capaz de ficar ali, ficou logo com o dia estragado.

Dizem que antes ia-se aos touros e voltava-se melhor do que se era. Que se aprendia solidariedade e amizade ao próximo e ao animal. Que era uma lição de vida: se quem arriscava a vida era capaz de ser bom, não havia desculpa para ninguém, no dia-a-dia, para não fazer o bem e ser amigo do seu amigo. Hoje é cada um por si. A televisão diz que temos de ter um carro bom, comprar a roupa xpto, ir de férias para a Conchichina, não importa quem tenhamos de pisar. Os velhos morrem e os novos vivem todos cheios de si, cheios demais para aprenderem as tradições e continuá-las.

Talvez um dia, quando crescer, vá para Lisboa. Afinal, na cidade há trabalho e, se formos a ver bem, a vida que levo aqui na terra, a comida que como, os jogos de consola que jogo, os prédios que vejo, enfim tudo, não é muito diferente ao fim ao cabo. E quem diz Lisboa, diz o resto do mundo. Não vou notar diferença alguma.

Anónimo disse...

porque será que os auto intitulados "defensores dos animais" só falam dos touros! pareçe ser o único animal que eles julgam ser mal tratado! nunca os ouvi falar dos cães Pit Bull por exemplo..em que lhes cortam as orelhas e o rabo..só para terem mais look!! aliás até já vi um membro da liga de protecção animal a passear-se com um em lisboa...nunca os ouvi falar daquelas pessoas que adoram cães..e depois têm um pastor alemão enfiado numa varanda de 2 metros o dia inteiro! nunca os ouvi falar dos ciganos que têm os desgraçados dos cavalos a morrer á fome e sede dias e dias nos acampamentos!! nunca os vi ou ouvi a manifestarem ou a denunciarem estas situções! pois isto para mim..é que são maus tratos aos animais! mas como isto não tem impacto..não tem televisões atrás..não tem protagonismo..os senhores defensores dos animais não falam!! e isto é apenas exemplos entre muitos e muitos que poderia aqui dar!

k7pirata disse...

Querem ver que a Ministra da Cultura já criou uma secção de lutas de Pit Bull no Conselho Nacional de Cultura e nós não sabemos!?!?

Anónimo disse...

AV disse...
Olha o Vírus do Brocas, começou a atacar aqui no Arre Macho e gosta de touradas, é a maior emergência que eu já vi no esgoto moiteiro !

AV2

08 Março, 2010 21:45

Já puxei o autoclismo; levou tudo.

Anónimo disse...

O Caracol tambem tem cornos...Porque nao tourear um Chibo....