Lembrei-me de Beethoven...

A propósito do Fim do Muro há 20 anos

Lembrei-me de Beethoven, que admirador de Bonaparte e na esperança que os ideais da Revolução Francesa se expandissem pela Europa, lhe dedicou a Heroica. Mas Napoleão não tardou a sucumbir à ambição pelo poder, fazendo-se nomear imperador. O compositor ficou furioso esborratando e riscando a dedicatória da obra "à memória de um grande homem" e quando alguém lhe comunicou que o imperador tinha falecido na ilha de Stª Helena, obteve como resposta: "já lhe cantei o elogio fúnebre hà anos".
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Na altura não me espantei com a sucessão dos acontecimentos a Leste, há muito que considerava previsivel a hipótese de grandes reviravoltas, pois informado conhecia a sucessão de falhanços, nomeadamente pela possibilidade que tive de conviver com três membros do Partido Comunista Soviético no fim da década de 70. Recordo quando lhes perguntei sobre o discurso de Brejnev, que em Congresso considerou estarem criadas as condições materiais para avançar para o Comunismo, eles desataram à gargalhada dizendo-me: "o que está, é rebentar um dia destes um grande trinta e um".

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Pior para mim, foi observar à troca de bandeiras no Kremlin, não por qualquer sentimento nostálgico, mas por traduzir-me a confirmação da dimensão exacta e "apoteótica" daquilo a que a ambição pelo poder é capaz de fazer.

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Foi um sonho lindo que há muito vinha sendo destruído, exactamente pela corja, estes sim, corruptos e traidores, que se foi adonando do Partido e por este de todos os meios e estruturas da sociedade , desvirtuando o Poder dos Sovietes, obstruindo a liberdade.

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Naqueles países a liberdade foi reconquistada, mas para a maioria só sobrou miséria, quando para os membros da corja sobrou fartura, alguns até integram os mais ricos do mundo.

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Significa isto, que o derrube do muro fez nascer mais que têm de ser derrubados. Estou até certo que quando chegar a altura, alguns que aplaudiram o derrube de há 20 anos, por desacordo, não irão estar presentes. É QUE A LUTA CONTINUA !