Atentado à Democracia ...

Ontem na mesa eleitoral nº 3 da Freguesia da Moita, verificou-se um atentado democrático que levou o Exmº Senhor Conde Trapeiro a desistir de exercer o seu direito de voto.

Mediante tão ilustre figura para votar e a repentina enchente que se verificou na sala, o membro da mesa que estava junto da urna, atrapalhou-se confundindo o papel identificador do Srº Conde com o boletim de voto que este lhe acabava de entregar, abrindo inadvertidamente o boletim, cometendo deste modo o crime de quebra do direito ao voto secreto.

O Srº Conde que é um expert em direito, prestigiadíssimo advogado, reagiu com "saber e firmeza" denunciando de imediato aquele atentado à democracia, que manchou irremediávelmente o processo eleitoral que decorria. De tal forma assim foi, que o caso durou das 11 ás 15 horas - o Srº Conde recorreu ao Presidente da Junta, à Vereação e até ao seu amigo Lobo, companheiro de cavalgadas, jantaradas e romarias.
Não bastando, recorreu ao Correio da Manhã e à Comissão Nacional de Eleições, de onde veio a concluir pela natureza do grave crime ali cometido, poder por julgamento sumário ordenar a prisão imediata daquele membro da mesa eleitoral.

Tudo aconteceu na mais delicada peixeirada, própria do Jet-Set local, que por lá se foi ajuntando em solidariedade ao Srº Conde - tudo isto, apesar dos repetidos pedidos de desculpa daquele membro da mesa, como dos demais que a integravam.

O Srº Conde que tão bem conheço, retirando o recente privilégio do assiduo convivio com o Srº Presidente da Câmara, é daquelas pessoas que só se enquadraram na Democracia porque a Constituição da República assim o obriga. É que sendo ele da minha idade, recordo-me de nunca ter dado um passo ou emitido uma opinião em prol da Democracia, em defesa da Liberdade. Quem não recorda o ridiculo estilo desajeitado que adoptava para estar sempre junto dos antigos donos da Moita, nomeados da ditadura, da elite que então transformara a esplanada do Fragata no seu quintal.

É desses tempos que lhe sobram os tiques e a inesperada intolerância com que ontem tratou os membros da mesa eleitoral nº3, trabalhadores e pessoas dignas que há anos prestam aquele serviço à Democracia, mesmo do tempo em que nada recebiam. Coisa que o Srº Conde não gosta de fazer, coisa que não entra no seu estatuto de "Nobreza".

Estivesse eu a presidir aquela mesa, mediante tais desafôros mais o entra e sai, entre o reclama e não reclama, o escreve e não escreve - teria recorrido à Lei Eleitoral, artigo 94º, nº2 e o Srº Conde teria sido posto no olho da rua e o Jet-Set afastado do acesso à sala, sobrando-lhe apenas o direito de recorrer judicialmente pelos processos que penso serem do seu conhecimento.

De certeza que não estaria a instabilizar o acto eleitoral desde as 11 da manhã, ás 15 horas da tarde.

Ficaria a saber,
que a Democracia é outra coisa.