Gostaria de ser parco em palavras, mas a consciência não mo permite.
Gostaria de ter um suave beijo ao redor do teu poema sânscrito, um
hífen em parangonas no chá de um deserto por descobrir.
Mas não.
Não posso ter a aura misteriosa de um canto diáfano, só porque
exultas no sangue dos inocentes. Não posso parar a guerra que
desemboca no teu olhar, não posso calar a raiva de um coração
destroçado. Partes o pão e distribuis a fome pelos estômagos
mais inchados. Há a cólera, o riso e a putrefacta mente em
demasia, combustão autóctone dos sentidos. Parar?
Não posso!
Adiar o julgamento numa noite fria, posso, mas não quero.
Numa perspectiva apolínea, não há lugar para o sim da
redenção. Não há! Sim. Mas não há.
Tudo é medo e sombra quando te posso dizer o que sinto,
mas não o faço por ser demasiadamente pequeno, curto,
impassível e oprimido. Em múltiplas palavras que te
escreva, sinto a inconsciência da minha utopia,
e sofro.
Tenho medo do dilúvio de braços e de afectos,
corpos caindo em decúbito dorsal, formol e
memórias, memórias, riscos e interferências.
Gostaria de ser parco. Mas não, mas não posso,
mas não há palavras, não há memórias, não
há sofrimento suficiente que me obrigue.
A parar!
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