sábado, janeiro 13, 2007

Estranha "Universidade do Povo"

Um amigo fez-me chegar um comunicado distribuido pelas ruas e casas da Moita de uma tal "Universidade do Povo" situada na "Quinta do Juncalinho, Lote 85, 2860 - 428 Moita".
O nome até me pareceu apelativo e veio-me à memória as campanhas de alfabetização, entre outras actividades desenvolvidas em tempos por pessoas que disponibilizavam o seu tempo, para partilhar e ensinar a outras mais carenciadas e que não tiveram a hipótese de estudar no tempo da outra senhora. Até aqui tudo bem. Qual o meu enorme espanto quando começo a ler o dito comunicado que tem por cabeçalho "Carta aberta a Rui Rio e a todos os partidários do «Sim Ao Aborto Livre»", fiquei pampo com o titulo e com o conteudo deste comunicado que passo a transcrever:

"Eu, abaixo assinado, pedagoga e matriarca do Povo, venho, por este meio, dizer a Rui Rio e a seus aliados no«Sim Ao Aborto Livre»:
Perante o que ouvi de vossos lábios, através da televisão (considerando o movimento do SIM à interrupção voluntária da gravidez um acto nobre) vocês não merecem o pão que comem nem a agua que bebem porque deveríeis fazer parte do Oceano das vítimas do SIM à morte das crianças no ventre materno!
Vocês não merecem os beijos, os carinhos, os imensos trabalhos e canseiras que vossos pais e restantes família ou amigos vos doaram com amor e dedicação!
Vós sois autênticos Herodes (lol)! Sois CAUDALOSOS RIOS DE SANGUE em direcção ao Oceano das vítimas do assassinato de crianças inocentes, no lugar onde elas se deveriam sentir mais amadas e protegidas! Com esse sangue inocente, que directa ou indirectamente derramais, ensaguentais o vosso rosto, o rosto de quem vos deu oportunidade de viver onde vos encontrais; ensaguentais ainda o vosso trabalho, o vosso partido político, o vosso lugar na sociedade, a vossa Pátria e sobretudo a vossa alma!
Em vez de engrossardes os rios dos derramadores de sangue inocente, deveríeis engrossar os rios daqueles que oferecem o seu próprio sangue para salvarem vidas em perigo de morte (eu já fui bombeiro e sou pela opção de escolha senhora patriarca). Esses sim, esses englobam movimentos de nobreza de sentimentos!!!
Recuso-me a tratar-vos por Senhores ou Senhoras porque não mereceeis o pão que comeis nem a água que bebeis, mormente Senhoria alguma! Rogo a todas as pessoas que queiram ser SALVA-Vidas, que lancem as suas as suas embarcações e redes nos Rios de sangue que já se estão a formar em direcção ao Oceano das vítimas mortais do «SIM» à matança livre de tantas crianças que poderiam vir a ser, até sábias e santas!
Honremos a memória de todos quantos já deram o seu sangue para salvar vidas em perigo!
Honremos a memória de todos os bombeiros volutários que já pereceram e dos que continuam a pôr as suas vidas em perigo para salvar quem se encontra em aflição!
Honremos a memóriade todos quantos, de algum modo, sacrificaram a sua vida ou os seus bens em benefício da vida de outros! Só desta forma nos podemos honrar a nós mesmos!
Data: 10 de Janeiro 2006
Autora: Guilhermina do Rosário Marques

PS: Visite a sala-museu da Universidade do Povo onde se encontra a cruz que simboliza o sofrimento das crianças que os pais não deixaram nascer. Faça a sua marcação.

Universidade do Povo
Quinta do Juncalinho, Lote 85
2860-428 Moita
TLM: 963805905"

É mesmo para aceder aqui a esta barbaridade, porque não inventei este texto!

E agora vale a pena elucidar esta Guilhermina?
Telefonei a marcar uma visita à sala-museu para ver a cruz, mas esqueci-me de perguntar se davam lanche ou se as mamadas estavam incluidas.
Patriarca (não sei do quê), você encontra-se confusa sobre o direito de optar. É certo que desmanchos você até os compreende mas aborto ou interrupção voluntária da gravidez já lhe faz confusão.
Sou sincero, o Rui Rio é dos presidentes de câmara que mais me revoltam e não podemos branqueá-lo com este movimento (há muitos mais). Será que o Rio é uma pedra no seu sapato de Social Democrata?! Só pode! A "pedagoga" deveria informar-se sobre os crimes que a sua "cruz" cometeu, não é o gajo que lá está pendurado (nascido de uma aventura de Maria e por desculpa lá veio o tal espírito santo), mas sim o que fizeram com o sofrimento do bacano e toda a história do mundo civilizado, desde inquisições, proibição de preservativo, pedófilos e outros. Como o Broncas já colocou aqui num post "Obviamente mataram-no", pelas atitudes tomadas em defesa dos pobres e moribundos, tal como as ossadas de recém nascidos (essas sim) encontradas em escavações no Convento de Mafra revelaram ao mundo, que afinal os Padres e as Freiras não são de ferro. Optaram pelo desmancho não é? Deixe as outras pessoas optarem, não seja hipócrita!
Bom, isto já vai longo e comunicados destes não merecem resposta.

4 comentários:

O Broncas disse...

DE FACTO NÃO MERECEM RESPOSTA.

Anónimo disse...

Hilariante!
O sangue era tanto que subiu-lhe à cabeça.
Haja ignorância e estupidez!!

Anónimo disse...

27 boas e verdadeiras razões para se votar sim no referendo do aborto

Porque é um direito a mais que conquistamos
Porque é um dever a menos que suportamos
Porque os países civilizados têm
Porque é sinal de modernidade
Porque a Igreja é contra
Porque é mais uma causa
Porque o Estado alguma vez é meu amigo
Porque é o principal problema deste país
Porque assim está-se mais à vontade
Porque, pela 1ª vez, se pode ter "desvios" sem impunidade
Porque temos que compensar as mulheres da violência doméstica
Porque assim controlo melhor o meu destino
Porque a barriga é minha e só lá está quem eu deixo
Porque já andamos nisto há uma porrada de tempo
Porque, ao menos, dão-me prioridade uma vez na vida.
Porque eu choro e os fetos não choram
Porque até fica bem no currículo
Porque eu não sei o que isso do amor maternal
Porque me convém
Porque eu não quero que eles saibam e nem quero assumir
Porque eu, mãe, quero vingar-me do pai
Porque é mainstream
Porque eu quero
Porque é da esquerda ou da direita moderna (neo-liberal)
Porque ele não fala nem vê e eu sou mais forte
Porque é mais um passo
Porque sim

Anónimo disse...

15 QUESTÕES SOBRE O REFERENDO

1 - QUAL A QUESTÃO QUANDO SE FALA DE DESPENALlZACÃO DO ABORTO ?
Em 1984 legalizou-se o aborto em Portugal, mas os prazos dessa lei foram alargados em 1997. Nesse ano tornou-se legal abortar por razões de saúde da mãe até às 12 semanas ou até aos 9 meses no caso de perigo de morte ou grave lesão para esta, até às 24 semanas (6 meses) no caso de deficiência do feto, até às 16 semanas no caso de violação. O referendo de 2007 propõe que a mulher possa abortar até às 10 semanas nos hospitais e em clínicas privadas, com os serviços pagos pelos nossos impostos, sem ter que dar qualquer razão (por não estar satisfeita com o sexo do bebé, por exemplo), e inclusivamente contra vontade do pai da criança. De facto, trata-se duma legalização e liberalização do aborto.

2 - MAS QUEREM QUE AS MULHERES QUE ABORTAM VÃO PARA A CADEIA ?
Uma mãe apanhada a roubar pão para um filho com fome não vai presa, precisa é de ajuda, e lá por isso ninguém diz que o roubo deve ser legalizado e feito com a ajuda da polícia. É importante que as pessoas saibam que o aborto é um mal e por isso é punível por lei, mas as penas têm um objectivo pedagógico (colaboração com instituições de solidariedade social, por ex.), sendo a possibilidade de prisão, tal como no caso do crime de condução sem carta, considerado um último recurso. Há mais de 30 anos que nenhuma mulher vai para a cadeia por ter abortado e a ida a Tribunal (já muito rara) evita-se sem ter que mudar a lei. O importante é ver quantas vidas uma lei salva...

3 - O BEBÉ TEM ALGUMA PROTECCÃO LEGAL ?
A sociedade deve considerar que todos, e especialmente os mais fracos e desprotegidos, merecem protecção legal; mesmo na lei de 1984 este era o princípio base, no qual se abriam algumas excepções. A liberalização do aborto muda esse princípio base, como se a sociedade portuguesa dissesse que há seres humanos com direitos de vida ou de morte sobre outros seres humanos, admitindo que o mais forte imponha a sua vontade ao mais fraco sem que este tenha quem o defenda.

4 - DIZEM QUE O FETO AINDA NÃO É PESSOA E POR ISSO NÃO TEM DIREITOS…
Dentro da mãe não está com certeza um animal ou uma planta, está um ser humano em crescimento com todas as suas caracteristicas em potência desde o momento da concepção. Dependente da mãe, como estará durante muito tempo depois de nascer - pois se deixarmos um bebé no berço sem o alimentarmos ele morre - dependente como muitos doentes ou idosos. Será que por isso estes também não são pessoas, nem têm direitos? É por serem mais frágeis que os bebés, dentro ou fora do seio materno, os doentes e idosos, precisam mais da protecção legal dada por toda a sociedade.
Em 1857 o Supremo Tribunal dos EUA decretou que os escravos legalmente não eram pessoas e portanto estavam privados de protecção constitucional. Queremos fazer o mesmo aos bebés ainda não nascidos?

5 - E OS PROBLEMAS DA MULHER ?...
A suposta solução dos problemas dum ser humano não pode passar pela morte doutro ser humano. Esse é o erro que está na base de todas as guerras e de toda a violência. A mulher em dificuldade precisa de ajuda positiva para a sua situação. A morte do seu filho será um trauma físico e psicológico que em nada resolve os seus problemas de pobreza, desemprego, falta de informação. Para além disso, a proibição protege a mulher que muitas vezes é fortemente pressionada a abortar contra vontade pelo pai da criança e outros familiares, a quem pode responder que recusa fazer algo proibido por lei. Nos estudos que existem, referentes aos países onde o aborto é legal, mais de metade das mulheres que abortaram afirmam que o fizeram obrigadas.

6 - MAS A MULHER NÃO TEM O DIREITO DE USAR LIVREMENTE O SEU CORPO ?
A mulher tem o direito de usar o seu corpo, mas não de dispor do corpo de outro. O bebé não é um apêndice que se quer tirar, é um ser humano único e irrepetível, diferente da mãe e do pai, cujo coração já bate aos 18 dias, com actividade cerebral visível num electroencefalograma desde as 6 semanas, com as características físicas e muitas da personalidade futura presentes desde o momento da concepção.

7 - E QUANTO À QUESTÃO DA SAÚDE DA MULHER QUE ABORTA ?
Legal ou ilegal, o aborto representa sempre um risco e um traumatismo físico e psicológico para a mulher. Muitas vezes o aborto é-lhe apresentado como a solução dos seus problemas, e só tarde demais ela vem a descobrir o erro dessa opção. O aborto por sucção ou operação em clínicas e hospitais legais, pode provocar cancro de mama, esterilidade, tendência para aborto espontâneo, infecções que podem levar à histerectomia, depressões e até suicídios. O aborto químico (comprimidos), cujos efeitos sobre a mulher são em grande parte desconhecidos, quadruplica o risco da mulher vir a fazer um aborto cirúrgico. O trauma pós-aborto deixa múltiplas sequelas psicológicas durante anos.

8 - E QUANDO A MULHER NÃO TEM CONDIÇÕES ECONÓMICAS PARA CRIAR UM FILHO ?
Quem somos nós para decidir quem deve viver ou morrer? Para decidir quem será ou não feliz por causa das condições no momento do nascimento? O destino de cada um é uma surpresa, basta ver quantas estrelas milionárias do futebol vieram de bairros de lata. Deviam ter sido abortadas? Uma mãe com dificuldades precisa de ajuda para criar os seus filhos, abortar mantê-la-á na pobreza e na ignorância, o que só leva ao aborto repetido.

9 - MAS TEM QUE SE ACABAR COM O ABORTO CLANDESTINO...
, E verdade, temos mesmo é que acabar com o aborto, que ninguém pense que precisa dele, mas a despenalização não ajuda em nada à sua abolição. Em todos os países, após a despenalização aumentou muito o aborto legal (segundo a Eurostat, no Reino Unido 733%, por ex.), mas não diminuiu o aborto clandestino, pois a lei não combate as suas causas (quem quer esconder a sua gravidez não a quer revelar no hospital, por exemplo). E após os prazos legais regressa tudo à clandestinidade. A diminuição do aborto passa por medidas reais e positivas de combate às suas causas, e não há melhor forma de ajudar os governos a demitirem-se destas prioridades do que despenalizar o aborto. O que importa é ajudar a ver as situações pelo lado positivo e da solidariedade, e não deixar que muitas mulheres se vejam desesperadamente sós em momentos extremamente difíceis das suas vidas. É preciso que elas saibam que há sempre uma saída que não passa pela morte de ninguém, e que há muitas instituições e pessoas de braços abertos para as ajudarem, como as muitas dezenas delas que têm vindo a ser criadas ao longo do país e com o apoio dos vários movimentos “pela vida”.

10 –A DESPENALlZACÃO SERIA SÓ PARA AS MULHERES ?
Não. A despenalização abrange todos: médicos, pessoas com fortes interesses económicos nesta prática, pessoas que induzem ao aborto Pessoas que na lei de 1984/97 tinham penas muito mais pesadas que a
própria mulher. As leis pró-aborto abrem as portas ao grande negócio das Clínicas Privadas Abortivas e aos acordos para o Estado pagar esses serviços, enquanto os verdadeiros doentes esperam anos para serem atendidos sem terem direito a essas regalias.

11 - MAS A DESPENALlZACÃO NÃO OBRIGA NINGUÉM A ABORTAR...
Está prrovado que a despenalização torna o aborto mais aceitável na mentalidade geral, e por isso mesmo leva na prática ao aumento do número de abortos. A lei não só reflecte as convicções duma sociedade como também forma essa mesma sociedade. O que é legal passa subtilmente a ser considerado legítimo, quando são duas coisas muito diferentes.

12 - PORQUE SE PROPÕEM PRAZOS PARA O ABORTO LEGAL ?
Não há nenhuma razão científica, ética, ou mesmo lógica para qualquer prazo. Ou o bebé é um ser humano e tem sempre direito à vida, ou é considerado uma coisa que faz parte do corpo da mãe e sobre o qual esta tem sempre todos os direitos de propriedade. Os próprios defensores da despenalização sabem que o aborto em si mesmo é um mal e que a lei tem uma função dissuasora necessária, por isso mesmo não pedem a despenalização até aos nove meses. No entanto, é de perguntar porque é que até às 10 semanas mulheres e médicos não fazem mal nenhum, e às 10 semanas e um dia passam a ser todos criminosos.

13 - SEGUNDO A LEI O PAI DA CRIANÇA TEM ALGUM DIREITO OU DEVER NESTA DECISÃO ?
Não, o homem fica sem nenhuma responsabilidade, e também sem nenhum direito. A mulher pode abortar o filho dum homem contra a vontade dele. Quando a mulher decide ter a criança a lei exige que o pai, mesmo contra vontade, lhe dê o nome, pensão de alimentos e até acompanhamento pessoal, mas se decide não o ter o pai não pode impedir o aborto - fica excluído na decisão de vida ou de morte do seu próprio filho.

14 - O ABORTO É UM PROBLEMA RELIGIOSO, OU ABRANGE OS DIREITOS DO HOMEM ?
O aborto ataca os Direitos do Homem. O direito à Vida é a base de todos os outros. O direito de opção, o direito ao uso livre do corpo, o direito de expressão... todos os direitos de que usufruímos, só os temos porque estamos vivos, porque nos permitiram e permitem viver. Ao tirarmos a vida às nossas crianças estamos também a roubar-lhes todos os outros direitos. A Declaração dos Direitos do Homem explicita que estes são universais, ou seja, são para todos. Porque é que alguns bebés, só porque não são planeados, devem ser excluídos dos direitos de toda a humanidade?

15 - SER CONTRA A DESPENALlZACÃO NÃO É SER INTOLERANTE E RADICAL ?
Não, o aborto é que é totalmente intolerante e radical para com a criança, porque a destrói; não lhe dá quaisquer direitos, não lhe dá opção nenhuma. O "Sim" ao aborto tem em conta a posição dum só dos intervenientes, a mulher, pensando erradamente que a ajuda. O "Não" ao aborto obriga-nos a todos, individualmente e como sociedade, a ter em consideração os dois intervenientes. Ao bebé temos de proteger e de permitir viver. À mãe temos de ajudar para que possa criar o seu filho com amor e condições dignas ou para que o possa entregar a quem o faça por ela, através de adopção.

Cláudio Anaia