sexta-feira, julho 22, 2005

(De)Composição Lenta

que te fiz eu
para perderes a inconsciência
do olhar?

que tormentos, que passados,
que angústias trespassei no teu coração boquiaberto aos sentimentos?

perdões, dívidas fiscais, ordenados,
são as finanças públicas
do teu terno olhar

castelos, fortalezas, riquezas, nobrezas, certezas de uma praia distante

memórias, insónias
de uma menina a sorrir
foste tu quem construiu novas vidas
foste tu quem geraste a inocência

adeus meu amor
parto sem títulos, sem reinado
mas por tua imensa saudade

despedaço-me na primeira vaga
dos oceanos vorazes da paixão
alimento as baleias no precipício dos mares, na abissal melopeia das marés

sou ferida aberta, peito perene
entregue à imensidão das soalheiras
tardes da melancolia

pago agora o preço da traição
sou fermento, espuma breve
a decompor-se a céu aberto

fui um ser, agora sou decomposição lenta e fétida.
só os abutres me querem!

Benjamim Rodrigues 22/07/2005

Sem comentários: