quinta-feira, abril 25, 2013

Está Vivo!...

Victor Vilson Simões, moitense nascido sem a benção de Deus em 28 de Dezembro de 1946, faleceu no dia 16, quebrando a árdua resistência que manteve desde muito jovem à doença de que padecia.

Começou a trabalhar logo após a 4ª classe numa oficina de serralharia na Broega.  Após a tropa e já sem um rim, trabalhou numa fábrica de bolos e mais tarde na Câmara Munícipal da Moita, de onde acabou despedido pelas opiniões e posições que cedo assumiu contra o regime fascista.  
Na década de 70, destacou-se no movimento associativo pela participação na C.Cultural da Soc. Fil. Capricho Moitense e posteriormente na Estrela Moitense. Foi também um dos principais organizadores dos primeiros Jogos Juvenis da Moita em 1971, evento mobilizador e de grande importância naquela época.

Em 1969 iniciou a sua actividade politica organizada contra o regime, no MOD, naquele tempo em que era preciso ter coragem para vencer o medo - quantas noites a espatular tinta em arcaicos copiadores de pano de orgadim; quantas noites, fora de horas a espalhar panfletos, sempre com um olho no burro e outro no bufo que podia aparecer, cedo merecendo pelo seu esforço o respeito, a confiança e admiração dos camaradas de então, pelo qual foi um dos moitenses que participou no Congresso de Aveiro em 1973.
Após 25 de Abril foi um dos fundadores da UDP onde desenvolveu a sua actividade politica, a par da Associação de Insuficientes Renais que ajudou a fundar em 1978, sendo o seu sócio nº1, presidindo-a desde 1986 a 2006.

São muitos os exemplos que poderia invocar atestando a dimensão do seu carácter. Recordo aqui a sua atitude após uma campanha bem sucedida de recolha de donativos promovida por amigos, com o objectivo de pagar-lhe uma viagem ao estrangeiro para um transplante e tratamentos inadiáveis, onde já pelos benefícios do conquistado Serviço Nacional de Saúde, os donativos apurados não foram necessários - decidindo de imediato -"o dinheiro veio do povo, ao povo vai voltar", optando por distribuir todo o valor recolhido a diversas instituições (*) do Concelho da Moita.

Um homem destes não morre, a memória não deixa. Em 1971 na Boa Hora para assistir a um julgamento politico, foi detido, no dia seguinte a mãe preocupada dirigiu-se à esquadra em Lisboa, apelando a um agente para que não fizessem mal ao filho, pois ele não tinha um rim - o agente respondeu-lhe: "não se preocupe, o seu filho se não tem um rim, deve ter quatro fígados".

Por caminhos diferentes partilhámos sempre os mesmos ideais, pois ainda há poucas semanas numa das nossas conversas, concluímos que apesar de experiências falhadas e até tenebrosas, a ideologia e o projecto que abraçámos, o Manifesto Comunista de Marx e Engels, não é um projecto falido. Vilson foi sempre um militante comunista.


(*)BombeirosV.daMoita/Soc.EstrelaMoitense/União Moitense/Soc.Capricho Moitense/Lar Abrigo do Tejo/Cercimb/Novo Rumo.






1 comentário:

António Duro disse...

Vilson, grande referência da minha juventude, um património riquíssimo deste concelho. Espero que onde estejas agora dscanses em paz por fim. Qualquer cidadão honeso e democrático desta terra, tenha que posicionamento político-partidário que tenha, que conheça um pouco a história da luta democrática dos SEUS, deverá honrar a sua memória. Espero que a câmara o reconheça também e se venha a fazer algo para que o seu nome e o seu trabalho de luta pelos outros não seja esquecido. Que não tenhamos aqui mais uma edição do que foi feito ao António Coelho ou o que estão a querer fazer parecido (ignorar uma rua com estes nomes) ao Munuel Luís Beja, só porque estes ilustres cidadãos deste concelho, ou que nele desenvolveram intensa actividade social, cultural e política, não eram do partido dominante. Que haja bom senso, memória e reconhecimento.