sexta-feira, março 23, 2012

Sobre a Greve de Ontem

Como já calculava e aqui em anterior post escrevi já prevendo. Não faltaram os comentadores, os habituais de serviço acrescidos de outros à procura de mais uns ganhos, quase todos simpatizantes da capitulação, onde em cujas cabeças os direitos de quem trabalha é um luxo e a situação dos desempregados é uma inevitabilidade, para a salvação do país. Todos apareceram para ridicularizar a decisão da CGTP-IN em ter avançado com a greve.
Com raras excepções, os argumentos usados assentaram na vulgaridade das considerações da populaça, do tipo: Já que não querem trabalhar, não impeçam os outros de o fazer; Pago o passe e fico sem transporte para ir trabalhar; O país precisa é de trabalho, não é de greves; A maioria não ligou à greve, porque as greves não levam a nada; Esta greve só serve para o Arménio vincar a sua liderança; não é disto que o país precisa ... e muito mais do mesmo jeito.
Nestas coisas, pela minha parte nada me espanta. Já no tempo da Ditadura tal desdém estava instítuido. Quem reagia contra a servidão, por simples aspirações a uma vida melhor ou porque não queria que os filhos fossem para a guerra - que em conversas segredeiras com sentido mobilizador falasse de liberdade, muitas vezes  ouvia até dos amigos mais próximos - "não me meto nisso, não quero ficar sem emprego ou ser preso"; "eles fazem o que querem, têm o poder todo"; "O que é que eu ganho em meter-me nisso?" "Isso é politica e a politica é para os politicos"... e muito mais no mesmo jeito.
Deste modo e exactamente pela descrença que sobressai na actual conjuntura, que em nome da crise apostam no empobrecimento e no desmantelamento de conquistas que estruturam e caracterizam o próprio regime democrático, objectivos descritos no acordo estabelecido na concertação social a subirem em breve para votação na Assembleia da República - esta Greve tinha de acontecer agora.
 
Forçar um estrebuchão no pântano das ideias que vigoram em toda a sociedade, exaltando contradições, fazendo vir à tona toda a escória oportunista e individualista que a enferma, onde o desespero  e a incredulidade imperam, foi o objectivo subjacente à decisão para a Greve.
 
Não a fazer por receio de uma menor adesão e de insucesso mediático, mediante tudo aquilo que o Governo pretende votar na Assembleia da República nas próximas semanas, seria dar espaço aos capituladores, retirando espaço de acção aos que têm coragem de dizer não.

- Esta greve, também deu para perceber que o Governo tem o aparelho repressivo bem preparado. Para isto, não faltam euros.

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