“Documento Verde”
Reforma Administrativa Local
O “Documento Verde” para a Reforma
Administrativa Local surgiu por enxertia conjuntural da Troika, como uma
encomenda imposta do exterior e não como uma iniciativa nacional, sustentada na
realidade portuguesa.
Deste modo, o “Documento Verde” não é uma
proposta ponderada, que tão pouco tenha em conta a realidade sócio-económica do
país – realidade onde se evidenciam contrastes territoriais flagrantes, quer ao
nível dos espaços em si mesmos, quer ainda ao nível dos sistemas de articulação
territorial, cimentados ao longo de mais de um século, por transformações que
incidiram na sistemática litoralização deste território tão estreito.
O “Documento Verde” não oferece, assim, quaisquer opções metodológicas e conceptuais que induzam a uma estratégia de inversão a longo prazo da prevalecente tendência litoralizadora persistindo, deste modo no agravamento das desigualdades regionais.
Por outro lado, põe em causa todas as
experiências e saberes acumulados desde Abril de 1974, colhidos num período de
resposta às carências mais elementares das populações, cuja necessidade de suprir era imediatamente percetível, a par do
atual desafio autárquico de intervir, de forma decisiva, no curso do
desenvolvimento local.
Repare-se que os novos paradigmas teóricos,
baseados no desenvolvimento endógeno, desenvolvimento a partir “de baixo”, já
ensaiados e com raízes, enfatizam a pequena escala e a especificidade
sócio-territorial dos problemas e vias de desenvolvimento, que na realidade já
estão presentes na consciência da necessidade do planeamento, da
regionalização, tendo como objetivo o desenvolvimento local.
Nada disto o “Documento Verde“ contempla –
embora pretendendo alterar um mapa administrativo, dizendo-o desajustado à
realidade de hoje, apenas pretende edificar o absurdo, começar pelo telhado
como os arquitetos da Troika ordenam, pois omitem a regionalização e o
planeamento local, entendido, e aí sim, como condição para um processo de
crescimento e modificação qualitativo-estrutural, com forte índole económica,
baseado no aproveitamento das potencialidades endógenas e no respeito pela
identidade histórica e vontade própria das populações locais.
A provar tão grande ligeireza são os diversos
comentários públicos e as declarações tecidas na esgrima político-ideológica
pelos próprios promotores, sendo previsível por tal cartilha, que tudo acabe pela redução de algumas Juntas de
Freguesia para Troika ver, colando o
almejado desejo político de alterar a lei eleitoral autárquica.
No caso das Freguesias (que abarcam cerca de
0,1% do O.E.) e concretamente neste Concelho, o Bloco de Esquerda não entende como
é que é possível verificar-se qualquer redução, posto que todas se diferenciam
pelas características, identidades e origem histórica próprias, onde mesmo as
mais recentes, como Sarilhos Pequenos, Gaio-Rosário e Vale da Amoreira, não só
possuem vincada identidade própria, como foram fundadas em consequência do seu
próprio desenvolvimento, a par da consciência de comunidade que facilmente em
cada uma se identifica. Pelo facto, e a verificar-se a tentativa de extinção,
exige-se que a Assembleia da República legisle, garantindo a participação das
populações, com recurso ao referendo com efeito vinculativo, de forma a que as
populações expressem a sua vontade.
No caso da alteração
à lei eleitoral, desejo almejado tanto pelo
PS como pelo PSD, não existe nenhum aprofundamento da democracia local,
pelo contrário, a transformação proposta visa reforçar o bipartidarismo, impor
executivos monocolores, reduzindo drasticamente a representatividade eleitoral,
promovendo o presidencialismo - afetando deste modo toda a estrutura,
composição e funcionamento dos órgãos executivos e deliberativos, arriscando a
cultura da informalidade, com a consequente redução da transparência na gestão
autárquica e menor participação das populações.
O Documento Verde do PSD/CDS é apenas o princípio
de um mais ambicioso projeto que visa a alteração do sistema eleitoral para as
autarquias, projeto que tem tido, pelo menos verbalmente, o suporte do PS.
Estes partidos apresentam como argumento uma
preocupação sobre “o reforço dos poderes de fiscalização da Assembleia
Municipal sobre o Executivo”, sem nada de concreto adiantarem.
O Bloco de Esquerda considera que é de
ponderar o atual sistema de eleição direta dos membros do executivo, que
permite que no funcionamento desta Assembleia Municipal residam práticas em que
este órgão deliberativo é muitas vezes subalternizado pelo Executivo da Câmara
Municipal. É de realçar que o atual Executivo da Câmara funciona objetivamente
num sistema presidencialista onde os próprios vereadores com pelouro, quando
questionados pelos eleitos na Assembleia, só com autorização do Presidente
podem responder.
O Bloco de Esquerda não se fecha em posições
cristalizadas sobre a Lei eleitoral para as Autarquias Locais; por isso,
perante qualquer alteração de eleição de um único órgão municipal, o Bloco
defende que o Executivo passe a ser eleito pela Assembleia Municipal, podendo
ser demitido na sequência da aprovação de moção de censura ou do chumbo do
Plano, Orçamento e Contas, seguindo-se assim um caminho de aprofundamento da
democracia local.
Assim, o Executivo encontra a sua própria
legitimidade na Assembleia, cujos membros adquirem poderes efectivos de
fiscalização e de apresentação de propostas que, sendo aprovadas, vinculam o
Executivo (ao nível dos atuais Vereadores).
Para o Bloco de Esquerda, outra matéria
controversa é o direito de voto dos Presidentes de Freguesia nas AM.
Em nosso entender as Juntas de Freguesias
têm-se afundado numa espiral de dependência financeira(e política), das Câmara
Municipais, degradando a autonomia que lhes é constitucionalmente conferida. A
participação dos Presidentes de Junta nas Assembleias Municipais não resolve o
problema e, em muitos casos, acentua essa dependência.
O Bloco defende o reforço das transferências
diretas do OE para as Freguesias (actualmente cerca de 0,1% do OE), assim como
das suas atribuições e competências, resgatando o papel de representação
política, necessariamente autónoma. A concretização deste pressuposto retira
qualquer justificação para a integração por inerência, dos Presidentes de Junta
nas Assembleias Municipais.
Queremos
realçar que este direito de voto dos Presidentes de Junta desvirtua, em muitos
casos, a proporcionalidade na AM, como é o caso na Moita.
Por tudo isto, o Bloco de Esquerda manterá
uma postura propositiva, aprofundando nas suas propostas todos os mecanismos da
democracia participativa, contrariando todas as temáticas contidas no Livro
Verde, que restrinjam o desenvolvimento da atividade autárquica, da sua
composição e funcionamento democráticos e limitem a intervenção e envolvimento
das populações.
Moita, 24 de janeiro
de 2012
Autarcas Eleitos BE
Concelho da Moita
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