segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Que grande burla...

  Porque não sou nenhum expert em economia politica, acontece que os que o são ou disso estão convencidos, quase diáriamente me deslumbram nos comentários e debates televisivos, pelo empenho como defendem o actual sistema - o capitalismo prevalecente, na sua dimensão globalizada pela batuta dos mercados e da esgrima financeira.
  Espantam-me assim com os rumos que defendem, nomeadamente no que trata ao sistema de emprego/desemprego e respectiva regulamentação, a par da manipulada confusão entre os conceitos, desenvolvimento e crescimento económico, que  vão impondo no debate das ideias.
  É claro, que já percebi que tais abnegados defensores não andam distraídos - eles sabem como usar os saberes da humanidade e a riqueza por esta criada, eles sabem como usar as referências mais negativas da condição humana, para garantirem a sua presença no poder, grangeando segurança e exclusividades do bembom desta vida.

  Exactamente porque por convicção discordo de tais elites, apraz-me por este meio ao meu alcance, denunciar as suas habilidades, a grande burla.
  Com a revolução técnico científica, nas últimas décadas tem-se observado a rápidas e profundas alterações de todos os meios de produção nos diversos sectores de actividade, com maior ou menor expressão consoante o nível desenvolvimento de cada país em todo o mundo. Este facto entre outras consequências, determina por si mesmo que para atingir os níveis de produção de bens para suprir as necessidades da humanidade, intervêm cada vez menos pessoas, existindo até estudos da FAO que indicam que em 2050 haverá apenas ocupação para 20% da população com idade activa no mundo.

  Aqui está uma evidência a mostrar a necessidade de se verificarem profundas alterações na distribuição internacional do trabalho, na organização da produção e na busca de outros modelos para a organização económica e financeira dos países num cenário global, que impeça que 80% da população do mundo, fique de fora, seja espoliada dos bens da humanidade.
  É por aqui que se detecta a enorme burla mundial em curso, promovida pela maioria dos detentores do poder e teólogos do mercado - por exemplo na europa, a actual desregulamentação laboral, não corresponde a qualquer inovação que altere os factores que determinam o crescente desemprego estrutural, com a agravante de a par e em consequência ir reduzindo os sistemas de protecção social.
  Tal rumo, a manter-se o actual modelo, (podendo aligeirar conjunturalmente os efeitos em onda de crescimento) o ferrête estrutural do desemprego manter-se-á em crescente, cuja manutenção se traduzirá no empobrecimento generalizado de países e povos, entorpecendo a breve prazo o desenvolvimento das regiões e paises com economias emergentes - isto, exactamente porque não se vislumbra qualquer tentativa para contrariar a latente crise paradigmática do capitalismo.
  Acresce também que o actual sistema impede a definição de uma eco-estratégia mundial (falhanço de Quioto) que contrarie o excesso de energia desarrumada no planeta, cuja atmosfera respirável não ultrapassa 8 km de altura - isto para sustentar um modelo de crescimento económico determinado pelo deus-mercado, opondo-se a um processo de desenvolvimento sustentável que nos aproxime e equilibre com a natureza.

  É este o cenário da burla, que o pragmatismo dos ideólogos do capital financeiro preparam, forjando inevitabilidades com o propósito de afeiçoar 80% da humanidade ao conformismo, à subserviência, ao servilismo senão mesmo a uma nova escravatura.
  A sociedade está assim envolvida numa tenebrosa armadilha politica, pois não só a subserviência e o servilismo são incompatíveis com a democracia e a liberdade, como o ressurgimento nas elites governantes de conceitos maltusianos,(*) onde não escondem como boas soluções a repressão e as guerras, as pandemias e até as catástrofes naturais, mostram a disposição de retrocederem em todos valores e direitos civilizacionais.
  Não é dificil deste modo prever que a intenção dos poderosos, filhos bastardos de todas as pátrias, em manterem este modelo  onde a gula confunde crescimento com desenvolvimento, vai descontractualizar a sociedade, aprofundar as diferenças e aumentar as injustiças sociais, com o risco de gerarem situações tenebrosas não compatíveis com o saber, a informação e a inteligência actuais.

  Não é preciso ser um expert, desses que enxameiam as televisões a viver à conta, para perceber a enorme burla em curso.

(*)revejam com atenção o debate do 1º programa Senadores, na SIC-notícias e comparem as intervenções de António Barrêto e Ferreira Leite, com o que Malthus escreveu no Ensaio sobre o princípio da população.





1 comentário:

Anónimo disse...

Este Broncas de vez em quando deslumbra-me.Bom post!