Via A Comuna:
A crise estalou inicialmente nos Estados Unidos porque milhões de famílias não conseguiram pagar as prestações mensais do crédito à habitação com que se tinham comprometido. Foram os mais pobres que detinham esse crédito que não conseguiram pagar.
Com a globalização capitalista e o predomínio da finança na época actual, a falta de pagamento dos créditos à habitação transformou-se numa crise financeira norte-americana, depois mundial, com repercussões grandes na economia real, que só o futuro mostrará até onde irão.
Para as elites dominantes, a culpa foi dos pobres que não tiveram juízo e se endividaram mais do que deviam. Para os poderosos a culpa está sempre na populaça inculta, imoderada e gastadora. A realidade é porém outra, o capital ou se expande ou morre, o objectivo da taxa de lucro impõe que o capital frutifique e para que isso aconteça alguém tem de comprar as mercadorias.
Ora, segundo o recente relatório da OIT ("Relatório sobre o trabalho no mundo: desigualdade de rendimento na era da globalização financeira", 2008) parte dos salários diminuiu nas duas últimas décadas em dois terços dos países do mundo, incluindo nos Estados Unidos. Neste país, os salários têm mesmo estagnado. A única alternativa dos trabalhadores e das suas famílias a essa estagnação foi o crescente endividamento.
Os mercados financeiros transformaram essas dívidas em negócio e durante anos os lucros foram fabulosos; quando as famílias endividadas não conseguiram pagar a crise estalou em cascata, atingindo a maioria dos bancos e empresas financeiras. Agora o risco é empresas fecharem, o desemprego alastrar, a crise aprofundar-se.
O que os governos fizeram até hoje foi tentar evitar mais falências, ir em socorro dos bancos para proteger o negócio. A pequena Islândia fica como exemplo paradigmático do poder explosivo da finança. Mas muito pouco têm feito para evitar que a crise se repercuta brutalmente na vida das pessoas.
Ora a crise veio trazer de novo à luz do dia a contradição dominante na sociedade capitalista: a contradição entre o trabalho e o capital, entre o produto cada vez mais social e a apropriação cada vez mais privada.
O estrangulamento da capacidade económica dos trabalhadores é a verdadeira origem da crise. Soluções mais rápidas para ela e para impedir a sua repercussão na vida das pessoas exigem que o Estado não pague os produtos financeiros tóxicos, mas invista na sociedade. Investimento nos serviços públicos, maior protecção dos trabalhadores, aumentos salariais, mais subsídios aos desempregados, é essa a saída mais rápida para a crise e a menos dolorosa para a sociedade. Se o Estado se endividar para dar dinheiro aos bancos e assegurar as altas taxas de juro então a crise será mais prolongada e as repercussões sociais mais brutais. As saídas não são neutras.
Carlos Santos
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