A semana que findou não correspondeu ao exigente cenário de serenidade que a Quaresma ordena, parecendo assim ter-se esgotado a fonte da bondade e da lucidez.
Não existem reformas, apenas peroram trapalhadas humilhantes propostas pelos governantes eleitos, que sendo bem pagos pelo povo, apenas servem os interesses do poder económico e financeiro. Nem Deus os salva, por tanto desmando e hipocrisia expelidas nesta semana, cuja violência, teve em crescendo a repulsa colectiva.
Até Mário Soares, agnóstico de bem com Deus, apareceu no jornal com uma velha "lenga lenga" redutora da consciência social portuguesa. Considerando que os portugueses menosprezam o seu país. Sustentando o seu pensamento até nas afirmações proferidas no estrangeiro pelo Rei D.Carlos I, que usou os termos parvónia e piolheira, caracterizando assim o povo e o país. Mas mais grave que isto é ter metido no mesmo saco, Eça de Queiroz e Bordalo Pinheiro, exactamente estes, que ao invés do Rei, denunciavam as elites politicas de então que condenavam o país à piolheira que tão bem descreveram e caricaturaram.
Os Eças e Bordalos de todos os tempos sempre incomodaram as elites trafulhas que se lambuzam no poder. Recordo-me (década de 80) das frases do então 1ºministro, à entrada do Hospital de S.Bernardo, quando trabalhadores sem salários da Imperex, Ima, Barreiros, M.Setubalense e S. Cooperadora, concentrados o aguardavam: - enxotem-nos daqui ! - estes gaijos não podem vencer ! - isto é obra dos comunistas !. Daquela gente que lutava para não cair na piolheira, dois foram detidos, mais grosseiros que Bordalo - chamaram filho da puta ao Srº 1ºministro.
A transversal piolheira que impede que este país se construa na escola, na familia, nos campos, nas fábricas, na criação, na universidade, na investigação e em tudo que envolve labôr e dedicação, está a ter a resposta - a evidente consciência social dos portugueses, daqueles que não definham no masoquismo e ideia de que o país faliu, que têm a clarividência de contrapropôr progresso ao retrocesso civilizacional, conteúdo das apregoadas reformas.
Foi assim que nesta semana agitada, Mário Soares resolveu meter férias à catequese, aparecendo em doce protecção do Angélico Sócrates e seus Anjinhos, defendendo-os da "má lingua de Eças e Bordalos".
A ele, que tudo tem feito na vida por gordas páginas na história, deixo-lhe o registo para que não esqueça, - que foi ele que esteve no hospital de S.Bernardo a inaugurar uma secção de hemodiálise que só funcionou dois anos depois, foi ele que proferiu as tais frases, que é ele que integra as elites que sempre promoveram a piolheira.
Cá desta banda estão os que Cesário Verde descreveu "... Os portugueses, são engenhosos como os engenheiros / brutos como os lenhadores.
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