quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Caminhos da Classe (1)

Uma vez ouvi de um sindicalista cá do Concelho numa intervenção que fez num Congresso da USS/CGTP-IN, dizer em remate retórico: "...o movimento sindical unitário português, representado na CGTP-IN, é hoje a simbiose dos ideais anarquistas, da fé e serenidade dos trabalhadores cristãos e da acção revolucionária marxista."

Nunca foi fácil desde o I Congresso das Associações de Classe realizado em 1885, garantir estruturas e funcionamento autónomos, quer do poder politico, quer das diferentes correntes doutrinárias que íam surgindo.
Embora a valorização da organização e unidade dos trabalhadores estivesse sempre presente pelos intervenientes nos muitos Congressos realizados desde aquele ano até hoje, não foram poucas as vezes em que por força das convicções expostas por diferentes correntes de opinião - aconteceram processos de manipulação e cisões.

Exemplos entre muitos: em 1895 realizou-se em Tomar o V Congresso das Associações de Classe, no qual a corrente socialista proclamou a sua hegemonia na direcção do movimento operário, desenvolvendo-se teses estranguladoras da greve e abertura da organização, pretendendo impor regras então caracterizadas de "espirito antigrevistico" e promovendo o interclassismo. Objectivos nunca concretizados, pois findo o Congresso, até 1904 cada Federação fez o que por bem entendeu.

No Congresso Operário e Cooperativista, realizado em 4 de Julho de 1909 em Lisboa e com a mesma Ordem de Trabalhos no Porto a 25 do mesmo mês - porque foi aprovada uma proposta que permitia a participação interventiva de um representante do Estado, os defensores da autonomia das organizações de classe, abandonaram a sala produzindo-se a cisão logo na 1ª sessão.

É neste caminho tortuoso de práticas bem e mal sucedidas, que as organizações crescem e que os Sindicatos se afirmam, constituindo a UON em 1914, e a CGT EM 1919.

Desde aquelas épocas,em todo o percurso foi denominador comum a descoberta de uma estrutura com matriz de classe cujo funcionamento permitisse fazer fluir a unidade dos trabalhadores, contra a exploração capitalista. Na sua evolução, descortina-se até nos sucessivos estatutos - que os objectivos dos trabalhadores dependiam da unidade e funcionamento das estruturas sindicais, só posssivel desde que configuradas na condição unitária e de classe, como garante da sua autonomia e capaz do envolvimento das massas populares.
É deste modo que encontramos anarquistas, socialistas, militantes de org.cristãs, comunistas e muitos outros sem qualquer filiação, na CGT. Unidade que nem sempre foi fácil, mas nem por isso deixou de protagonizar as lutas mais poderosas nos primeiros 15 anos da ditadura fascista.

É desta experiência acumulada durante tantos anos, que somada à corajosa e prolongada luta contra a exploração e opressão fascista, que hoje existe a grande Central Sindical Unitária que é a CGTP-IN.

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