segunda-feira, julho 16, 2007

O Erro do Lobo

E-mail recebido na nossa caixa de correio onde uma fábula se assemelha à realidade.

«Certa vez, numa localidade distante, e onde existia uma aparente acalmia nas vastas pastagens, apareceu um lobo (chefe de uma alcateia que dominava vastas cercanias) a quem pareceu a melhor altura para investir contra os estábulos onde viviam ovelhas que era hábito ali consumir pasto, não se apercebendo estas das suas intenções, apesar de há muito se sentirem incomodadas com o seu uivar.
Socorrendo-se da manha que tinha e da influência que sobre ele exerciam as Alcateias Construtoras de Tocas que já vinham progredindo na sua construção nas redondezas, aquele lobo avançou silenciosamente montanha abaixo, pensando que, com o apoio da sua alcateia e com a ajuda de outras que decerto lhe iriam reivindicar um pedaço do saque, conseguiria o seu intento, ou seja; dominar toda a região e, posteriormente, entregar as grandes parcelas daquilo que considerava seu território às alcateias especializadas em construção de tocas (num mero acto de vassalagem) desde que estas lhe assegurassem o seu sustento assim como aos outros lobos da escala hierárquica da sua alcateia, garantindo-lhes, para o resto das suas vidas (mesmo depois de abandonarem aquela vida nómada), uma existência mais desafogada e sem dificuldades.
As ovelhas há muito que andavam inquietas, parecendo-lhes que algo muito estranho estaria para acontecer: — Uma coisa sabiam elas; naquilo que anteriormente tinham sido grandes áreas de pastagem, iriam agora ficar repletas de tocas, e os lobos ficariam decerto cada vez mais gordos e o seu território de caça cada vez mais vasto, ao mesmo tempo que as áreas de pastagem diminuíam, criando algumas dificuldades de sobrevivência às pobres ovelhas. Sentindo-se ameaçadas, decidiram juntar-se a outros rebanhos das redondezas, com o objectivo de impressionar o lobo (e sua alcateia) com a dimensão do seu rebanho, persuadindo-o de descer ao vale e tentar de novo tomar as suas pastagens e transformá-las num grande aglomerado de tocas.
Há muito que o lobo (e sua alcateia) vinha concedendo à sua passagem, pequenos territórios a troco de alguns benefícios. Benefícios esses, que passavam pelo consentimento às Alcateias Construtoras de Tocas, a autorização de construírem cada vez mais em terrenos que anteriormente lhes estavam vedados, a troco da construção de outras, mas muito sumptuosas para os seus membros e em terrenos retirados às ovelhas, assim como de outros benefícios que permitiriam ao lobo dominante e sua alcateia uma vida faustosa, sempre de barriga cheia, e sem problemas na renovação dos seus apetites devoradores.
Certo dia, indignadas, as ovelhas decidiram, já com um rebanho bastante numeroso, começar a bramir em coro, insurgindo-se contra aquela investida que consideravam uma afronta ao seu bem-estar e à liberdade de circulação na sua área de pastoreio, fazendo ver ao lobo (e sua alcateia) que elas não permitiriam ser escorraçadas dos seus terrenos para que estes fossem entregues às Alcateias Construtoras de Tocas. Num amplo movimento que impressionou todo o vale e as pastagens mais próximas, as ovelhas fizeram ouvir o seu ensurdecedor bramido na tentativa de afugentar o lobo (e sua alcateia) para o interior das montanhas de onde tinha vindo, e deixarem-nas, coitadas, no seu pasto e viverem a tranquilidade de que se diziam merecedoras.
Assim não entendeu o lobo (e sua alcateia) e, no Verão, em pleno mês de Julho, e depois de ter estado refugiado por uns tempos nas montanhas, voltou a descer ao vale, usando do seu já tradicional autoritarismo que lhe garantia o domínio da alcateia e, escudando-se (confundindo poder com razão) na sua força e na subserviência da mesma (com o objectivo de continuar a beneficiar outras a quem prometera autorização para a construção de novas tocas no vale), desferiu (mas desta vez já com algumas limitações e sem legitimidade para o fazer) um intenso ataque, aplicando um rude golpe nas expectativas das ovelhas, que (silenciadas) assistiram mais uma vez e com alguma indignação, à consumação e delimitação das suas áreas de pastoreio em benefício dos seus predadores”.
Moral da história: Concluiu o avô à neta antes que esta adormecesse.
— O erro do lobo foi pensar que por ser um predador feroz, que só tem que se preocupar com o seu bem-estar e da sua alcateia, ignorando os mais fracos ao não querer ouvir as ovelhas e os seus lamentos, e aproveitar-se das suas fragilidades para garantir, para si e para os seus, um resto de vida mais tranquila e com amplas áreas de caça em abundância.
— O lobo a sua alcateia, ao ignorarem as humildes ovelhas beneficiando as Alcateias Construtoras de Tocas (o que lhes vai ser fatal para o seu futuro mas, que importa! (dizem) desde que lhes seja benéfico) só revela desconhecer que a aparente fragilidade dos mais fracos se transforma sempre num mar de razão, que acabará por inundar e corroer a consciência, denunciar, humilhar e vencer a arrogância dos que pretensamente pensam ser os mais fortes.»

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