O vocalista dos Mão Morta apela ao SIM no referendo.
Ena, que grande confusão vai por aí!... Um feto é um ser humano? E um girino, é uma rã? E um ovo, é uma galinha? E o pai natal existe? Podes acreditar no que quiseres e actuar em consonância com o que acreditas, não obrigues é os outros a acreditar no que tu acreditas. A idade média e a inquisição já eram (espero eu)...
Uma vitória do sim não vai obrigar ninguém a fazer abortos, pelo contrário vai dar a possibilidade a toda a gente de actuar livremente segundo a sua consciência. Vai possibilitar que uns não sejam penalizados pelo fundamentalismo de outros. Achas que um feto é um ser humano: tens toda a legitimidade para achar isso e para actuares em conformidade, não tens é legitimidade para me impores que eu ache a mesma coisa e para que eu actue conforme tu achas - e isso é o não, uma forma de uma crença particular continuar a impor-se sobre toda uma sociedade!
Nunca conheci ninguém que gostasse de abortar (e conheci muita gente que o fez...), é das decisões mais terríveis e dolorosas que se pode tomar. Acrescentar à dor dessa decisão a clandestinidade, com o inerente perigo de vida (conheci várias pessoas, incluindo amigas, que morreram por sequelas de aborto) e a ameaça de prisão, para si ou para quem a ajude (também conto entre os meus amigos pessoas que passaram anos na prisão por terem, de alguma forma, ajudado na prática de aborto, e eu próprio incorri várias vezes nesse crime, inclusivé com participação directa no acto abortivo - havendo falta de dinheiro para recorrer a clínicas clandestinas mais sofisticadas, improvisava-se a clínica no quarto - é isto o sórdido da clandestinidade), é, no mínimo, uma crueldade gratuita e malévola. É inquisição no seu pior! É, mais uma vez, mandar a mulher-bruxa-demónio para a fogueira.
Deixemo-nos de jogos de semântica! O que está em causa é se devemos ou não continuar a castigar penalmente e fisicamente aquelas (e aqueles) que, porqualquer motivo - doloroso, sem dúvida - tiverem que recorrer a uma interrupção da gravidez. E a minha resposta é não! Não temos o direito de castigar essas pessoas.
O meu voto é sim, e seria sempre sim fosse qual fosse a pergunta a referendo desde que possibilitasse qualquer avanço civilizacional na liberalização do aborto.
Adolfo L.C.
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