Particular existência do mal
Malignas cogitações na periferia
dos olhares transviados
Coágulos insuspeitos, miudezas
da carne e do espírito
Opíparas bocas sedentas de ambição
Nascem as mais vetustas leis
as perversas criaturas do pensar
incoerente e funesto
Marcas a distância dos afectos
não te dás a esses ditirâmbicos seres
preferes a modorra da solidão
Demarcas-te da multidão
soçobras nas praças públicas
inundadas de suor operário
Perdes a noção do espaço
o tempo está a galopar ferozmente
nas tuas costas, avança sobre ti
Corrres em direcção ao mar
à serra, à gruta, tanto faz.
Tornas-te um eremita circunspecto
Só o teu corpo, a tua solidão
os teus vícios interiores
a tua paranóia individual
contam para o breve
silêncio do universo
Deixas-te ficar
choras, ris, vives sujo
e apaixonado
Foste vítima dos
teus devaneios de amor
Amaste tanto que a sociedade
te via como um ladrão de corações
um ingénuo e infantil brincalhão
dos afectos
Por isso renunciaste a tudo
deixaste que o tempo se
afeiçoasse às tuas costas
Pensaste demais
quando tudo à tua volta
era de menos
Partiste, em direcção ao mar,
à serra, à gruta, tanto faz.
És o eremita velho, cansado
mas que ainda tem nos olhos
a felicidade de sonhar acordado!
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