quarta-feira, julho 19, 2006

Guerra total no Médio Oriente

.
Horrorizado e impotente, o mundo assiste à barbárie de uma guerra total na Palestina, de Gaza e da Cisjordânia, estendendo-se ao Líbano e ameaçando a Síria. Com a mortandade e o caos à solta no Iraque e o Irão debaixo da mira dos EUA, é fácil perceber o perigo de contágio global do conflito. Entretanto as labaredas da guerra se crepitam no Afeganistão, numa vasta zona fronteiriça com o Paquistão; sem esquecer o conflito latente deste pais com a Índia, a propósito de Caxemira e não só: o governo indiano já responsabilizou o Paquistão pela actuação de grupos islamistas, alegadamente envolvidos no recente atentado de 11/7 – no qual, implacavelmente, em 11 minutos, sete bombas provocaram mais de 160 mortos em Bombaim.

Olhando para este tsunami do terror e unindo os seus pontos – Telavive, Jerusalém, Gaza, Belém, Beirute, Damasco, Amã, Bagdad, Teerão, Kabul, Islamabad, Nova Deli, Bombaim… – eis o Grande Médio Oriente, a “visão genial” do não menos genial presidente G. W. Bush. O Grande Médio Oriente que ele, o cúmplice Blair e outros de quem não reza a história quiseram democratizar à bomba…. Os resultados estão à vista!

Ninguém de bom senso acreditará que Israel alguma vez pretendeu resgatar, pelo menos com vida, os soldados raptados pelo Hezbollah. E o que representam três vidas para os estrategas sionistas, num rol que, só desde o início da actual ofensiva, já vitimou mais de vinte israelitas e centenas de palestinianos e libaneses? A invasão dum país soberano, como o Líbano, o bombardeamento das suas cidades, da capital e do aeroporto, configura uma violação flagrante do direito internacional. Mas a ONU e o G8 assistem como cúmplices, sem uma admoestação sequer ao invasor, a quem ainda é reconhecido “o direito de defesa”… E às suas vítimas?

No Líbano, o criminoso voltou ao local do crime: em 1982, as tropas comandadas por Ariel Sharon invadiram Beirute e consentiram o massacre de mais de um milhar de idosos, mulheres e crianças nos campos de refugiados de Sabra e Shatila. Cercada a resistência palestiniana e imposta a retirada de Yasser Arafat de Beirute, iniciou-se um prolongado processo de isolamento político que visava a capitulação da OLP. Após a criação da Autoridade Palestiniana, debaixo de fogo permanente, Arafat foi um resistente até ao fim mas confinado à célebre Muqata, onde se esfumou o sonho dum Estado palestiniano democrático, laico e tolerante. Israel tudo fez para facilitar a ascensão de grupos fundamentalistas, como Hamas e o Hezbollah – o pretexto ideal para o seu belicismo. E Sharon, mesmo em coma profundo, pode sorrir: tem como sucessores assassinos à sua altura.

A invasão de Gaza, da Cisjordânia e do Líbano não são passos em falso nem uma mera “reacção desproporcionada” de Israel: trata-se de uma estratégia coordenada (pelo menos com os EUA) para o Médio Oriente, em paralelo com a guerra no Iraque e o risco da sua extensão, a prazo, à Síria e ao Irão. Vale a pena observar os argumentos dos analistas de serviço. No “Público” de 8 de Julho, pode ler-se em “Ciclo de Violência”: “A actual crise israelo-palestiniana tem uma origem bem definida: a saída de Israel de Gaza, a entrega de todo o território aos palestinianos; (…) em vez da criação de infra-estruturas, da construção de escolas e de hospitais, o essencial das energias e dos recursos palestinianos esgotam-se no fabrico frenético e no lançamento de mísseis Qassam sobre Israel”. Assina Esther Mucznik, “investigadora em assuntos judaicos” e agente da Mossad, pelo menos desde os tempos de Paris, onde se infiltrou nos meios antifascistas e anticoloniais.

Em directo de Telavive, “a convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita”, escreve o director do “Público”: “Se um dia Israel perdesse pela primeira vez uma guerra, desapareceria do mapa”. Entretanto, os mapas vão sendo engolidos pelas invasões israelitas… Já de regresso, publica o artigo “Uma guerra diferente”. Só que a principal diferença, como José Manuel Fernandes bem sabe, não reside no facto de este ser um conflito religioso e não político: “Era bom que nas capitais europeias, em Washington e em Nova Iorque fosse compreendido depressa que esta nova guerra no Médio Oriente não é uma guerra local, como as anteriores. É porventura muito mais global do que no tempo em que a URSS apoiava um lado e os EUA outro”.

É verdade que a história não se repete. A invasão do Líbano, 24 anos depois, tem um alcance maior: a guerra infinita imposta aos povos, como estratégia global de dominação imperialista. Com uma consequência óbvia: a resistência e a luta pela Paz terão de ser cada vez mais globalizadas.

Alberto Matos

2 comentários:

Anónimo disse...

Calculava que irias aparecer. Fizes-te bem.
Um abraço.

Paulo disse...

Pá...complicado!