Um amigo, bom soldador que ficou sem emprego, inscreveu-se e conseguiu ir trabalhar para uma plataforma nos mares do norte. Enviava para casa cerca de 3500 euros/mês, quando passados seis meses veio um de férias, encontrou a mulher desempregada, defronte de um novo televisor a comer uma piza trazida por um motociclista, nova mobília na casa, mas não encontrou a filha, que com treze anos andava na borga, acabando por a encontrar à uma e meia da manhã de copo na mão na esplanada da Velha Xica. Pior ainda quando foi ao sotão arrecadar as malas e encontrou uma sapataria, setenta e dois pares de sapatos, isto, quando o pior ainda estava para vir.
No dia seguinte, recebeu uma carta do banco, ficando a saber que as prestações da casa não eram pagas há quatro meses, apercebendo-se também que a conta estava quase a zero, com menos de quando foi para fora.
Sem referir-me aqui ao consequente e calculável pandemónio privado, a forma como este meu amigo se desenrascou, foi recorrer à troyca, a quem lhe emprestasse dinheiro e apressar a volta para a "canga", para se livrar do embrulho que as caganças e desgoverno da mulher lhe arranjou.
Foram as caganças da "Europa Connosco", as negociações de calcinhas em baixo, a destruição ao desbarato do aparelho produtivo, o esvaziamento de empresas e sectores inteiros na vulgarização do mutuo acordo acompanhado com chorudas indemnizações, foi a facilidade até premiada na antecipação de reformas, foram as autoestradas e os enigmáticos negócios, foi o maná da formação profissional - em poucas palavras, foi a bandalheira generalizada a servir clientelas ou a forjar sonhos nos incautos, garantindo sucessivos sucessos nas estratégias eleiçoeiras. Tudo isto mais o chapéu, a "poderosa cobertura do euro".
Agora!? os mesmos que armaram este trinta e um, como a mulher do meu amigo, dizem-nos que se não fosse a troyca já não havia dinheiro para salários, que já não havia dinheiro para nada.
Para acabar com estes ciclos, só existe uma maneira, que infelizmente já ultrapassa o direito de manifestação e o direito à greve, já nem a greve geral serve - é preciso muito mais!...
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