As coisas que eu ouvi logo que findou a última Assembleia Municipal.
Os membros do PSD e do CDS, sempre de parte e sem partilhar conversa, continuaram a cochichar sobre a greve do dia anterior, pareciam estar a partilhar orientações de carácter conspirativo, talvez sobre a forma e os métodos que vão ser usados, para concretizar a profecia da sua deusa Ferreira Leite, "um interregno na democracia".
Mas o que mais me espantou, foram as considerações e preocupações de alguns membros do PS sobre a greve e os acontecimentos junto da A. da República - não se incomodando nada com os vários atentados ao direito à greve, desde a chantagem e ameaças verificadas em inúmeras empresas em todo o país, até ao excesso, abusos na definição de serviços minimos, preferindo assentar baterias no comportamento dos piquetes de greve e nos "destabilizadores arruaceiros do movimento dos indignados". Nem uma palavra sobre os paisanos, estes sim, escolhidos a dedo e com preparação para a provocação e para a porrada, indiscriminada se asssim convier, exactamente como o aldrabão Miguel Macedo, ministro da Administração Interna determinar, cuja tarefa principal é cumprir a profecia de um "interregno na democracia", como demonstra o facto de o OE não contemplar cortes neste subsector, o da repressão.
Foi triste, entre tão mesquinhos comentários ouvir um responsável local do PS, dizer que por cá tal como na Grécia vão estar estrangeiros preparados para destabilizar, afirmando mesmo conhecer uma militante do PC que foi para a Grécia de férias com tal objectivo.
Sinceramente, nunca pensei que pessoas que conheço bem se transformassem nisto, em serventuários e bufos ao serviço do "interregno da democracia".
A propósito disto, deixo aqui um problema concreto ao Presidente local do PS, ao srº Manuel Borges.
Um alentejano, exactamente seu conterrâneo cuja esposa é natural de Chaves, ambos com cerca de quarenta anos e com dois filhos de oito e dez anos, estão ambos no desemprego, ela com uma doença grave que tem esgotado o mealheiro, e ele, que apesar dos diversos cursos de formação profissional apenas tem arranjado pontualmente uns biscates, entre os quais limpar fossas em paragens de empresas, a fazer 23, 27 e 32 horas seguidas aos fins de semana a 6,5 à hora - conheço-o bem, é habitante deste concelho e meu companheiro de trabalho nestas miseráveis andanças - está com uma ordem de despejo com a casa mais de meio paga, ele que nunca falhara a uma prestação.
Peço-lhe como autarca que é, porventura não apenas preocupado com jardins bonitos, sinalização correcta e passadeiras pintadas, mas nomeadamente com a vida de quem por lá passeia, que arranje uma solução para este caso e para mais de oitocentos que estão a arrebentar neste concelho. Tendo ainda em que aquele casal sempre votou no PS, com excepção das últimas eleições em que desistiram de votar, abstiveram-se.
Por favor, não o encaminhe para a CÁRITAS, Banco da Fome ou a peregrinações a Fátima, eles já conhecem esses caminhos - indique algum que lhes permita soluções dignas, soluções que não os afaste do espaço que devem por direito próprio ocupar na sociedade.