quinta-feira, maio 17, 2007

Carmona caiu outra vez…

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As eleições intercalares, marcadas para o próximo dia 1 de Julho, são o desfecho inevitável da crise que se arrasta, há mais de meio ano, na CML. Pela segunda vez na capital do país cai um Carmona, sem honra nem glória: o primeiro foi apeado do pedestal do topo Norte do Campo Grande, após o 25 de Abril – a estátua o velho marechal do Estado Novo, o primeiro “corta-fitas” de Salazar. A queda de Carmona II, agarrado ao poder até ao último momento, foi o elo final duma cadeia de trapalhadas que se tornou imagem de marca dos mandatos de Santana Lopes e Carmona Rodrigues.

Um breve “flash-back” traz-nos à memória o Parque Mayer e o projecto megalómano Frank Gehry, entretanto abandonado, à custa de milhões para o erário municipal; o túnel do Marquês, de duvidosa utilidade e cujos erros de projecto e de execução provocaram atrasos e fizeram disparar custos; as mordomias e os negócios privados dos administradores da EPUL, bem como a nebulosa de quase vinte empresas municipais, com destaque para a Gebalis; a acusação de favorecimento do promotor do empreendimento "Condomínio Residencial Infante Santo, à Lapa”, dispensado do pagamento da Taxa pela Realização de Infra-estruturas Urbanísticas no valor de 600 mil euros; a aprovação de um loteamento em Marvila, em terrenos previstos pelo Governo para o traçado do TGV. E até o fim litigioso da coligação com o CDS e Maria José Nogueira Pinto, com troca de acusações.

Esta corrida para o abismo atingiu o auge com a tentativa de corrupção do vereador Sá Fernandes por parte do sócio-gerente da empresa BragaParques, Domingos Névoa, a troco da desistência da acção popular interposta contra a permuta de terrenos do Parque Mayer pelos da Feira Popular. Esta tentativa, denunciada de imediato à PJ e por esta registada e documentada, deu origem a nova fase das investigações, em que foram constituídos arguidos os vereadores Fontão de Carvalho e Gabriela Seara e, por fim, o próprio Carmona Rodrigues, com acusações de peculato e participação ilícita em negócio. Sem prejuízo da presunção de inocência de todos os acusados até ao trânsito em julgado da sentença, era óbvio que a manutenção deste executivo se tornara insustentável há meses. Diz o povo que o pior cego é aquele que não quer ver… e Marques Mendes só abriu os olhos quando a Praça do Município já estava a arder – desta vez, felizmente, em sentido figurado.

Em todo este processo, ressalta o nome do ex-vereador Fontão de Carvalho que conheci enquanto fui membro da Assembleia Municipal de Lisboa, no mandato de 1997-2001. Em plena decadência do mandato de João Soares, com profusão de empresas municipais e disparates como o defunto elevador do Castelo, lembro-me da “combatividade” de Fontão de Carvalho, então vereador das Finanças de João Soares. Na altura, alguém lembrou que ele até provinha do CDS… Passados poucos meses, Fontão de Carvalho era vereador das Finanças de Santana Lopes e assim continuou com Carmona Rodrigues. Eis o retrato de um pragmático, sempre, sempre do lado do poder, um verdadeiro “homem do sistema” que fez uma afirmação fantástica: “uma Câmara com um vereador como Sá Fernandes é uma Câmara ingovernável”. Revelador!

É necessário que a maior autarquia do país leve uma grande volta, no próximo dia 1 de Julho. E que não mudem apenas as caras para que “o sistema” continue. Quando ainda se anunciam e desmentem candidatos, nomeadamente no PS e no PSD, pairam demasiadas dúvidas. Helena Roseta, arquitecta, mulher combativa e ex-Presidente da Câmara de Cascais, teria o perfil indicado de uma candidatura unitária de esquerda, totalmente fora de questão com e para o PS de Sócrates. No meio de muitas incertezas, há uma certeza cristalina: a recandidatura de Sá Fernandes que, em 2005, se apresentou como candidato independente numa plataforma de entendimento com o BE que se consolidou e tem funcionado de forma mais do que satisfatória. Eis um caminho seguro e coerente da esquerda cidadã que pode e deve continuar a fazer toda a diferença no próximo mandato, em Lisboa e não só.

Por fim, um caso de outra dimensão mas que motivou dezenas de mensagens de jovens, indignados com a forma desumana como os animais são abatidos no canil municipal de Beja: sem anestesia, com “injecção directa no coração” que pode falhar, provocando longos minutos de agonia. Perante imagens chocantes de cães amontoados num corredor, o poder autárquico não pode assobiar para o lado e refugiar-se nas competências da veterinária. Reclama-se maior apoio a instituições como “O Cantinho dos Animais”, que oferecem alternativas ao abandono e ao abate. E quem promete um “município participado” não deve ficar surdo perante reclamações justas.

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