"Mantenham os vossos rosários longe dos nossos ovários"
2 comentários:
Anónimo
disse...
É diferente o direito a vida e o direito a viver
São diferentes as gravidezes em maternidades ou em clínicas, nos meios rurais ou nos meios urbanos. São diferentes os recém nascidos amparados por mãos de “habilidosas” ou por luvas de parteiras diplomadas. São diferentes os filhos nascidos à custa de abonos e subsídios e os que têm um quarto só para os brinquedos. São diferentes as jovens que se sujeitam a restaurar os hímens e as que se sujeitam à “honra perdida”. É diferente a tez bronzeada de uma grávida de verão e a pele tisnada de uma grávida de enxada na mão. É diferente o leite materno de uma mulher com vitaminas e a que nunca tirou de misérias a barriga. São diferentes os filhos desejados e os filhos enjeitados, os que se mandam para as casas de correcção e os que vão ás consultas dos psiquiatras. São diferentes os adolescentes que entram nas universidades e os que se ficam sem rumo na educação.
É diferente a vida e o viver
Não são iguais as mães de muitos filhos vivos e as que contam também os seus nados-mortos ou os que se foram em idade tenra. É diferente uma mulher prenha e uma senhora no seu estado interessante. Não são iguais as mulheres que evitam a gravidez com tranquilidade e conhecimento e as que passam tormentos de aflição e medo. É diferente a mulher que faz o aborto às mãos de uma “curiosa” e aquela que se declara turista na fronteira londrina. É diferente uma mulher que não sabe o que fazer à vida e se lança na busca de uma morada clandestina e a que bate à porta do consultório de um médico amigo ou amigo do seu marido. É diferente uma mulher que paga o “tratamento” com um cheque visado e a que empenhou, às escondidas, os brincos de noivado ou uma peça da mobília.
É diferente o tecto salarial e o quarto de casal
É diferente a mulher que dá à luz entre gritos de dor e a que reconhece e controla as contracções de um músculo, a que chama útero. É diferente uma cesariana na horizontal ou uma cicatriz na vertical. É diferente a mulher que avia pílulas para muitos meses e a que poupa “camisas” com lavagens sucessivas. É diferente a mãe que carrega um filho ao colo e a que o carrega atrás das costas para poder aproveitar as duas mãos livres. É diferente um homem que já esteve numa sala de partos de aquele que é incapaz de apalpar o ventre grávido. É diferente o homem que “se despacha e faz o seu serviço” e o que espera atento a partilha É diferente um homem que foi pai de uma mulher que teve um filho. É diferente uma mulher, que se estima como tal e a que preferia nunca ter nascido rapariga. É diferente o corpo e o sexo.
Maria Antónia Pala, em 1984 quando da discussão do 1º projecto de lei da IVG, escrevia assim no "Diário de Lisboa". podia escreve-lo hoje não é? afinal o que mudou desde então? nem o rosário.
2 comentários:
É diferente o direito a vida e o direito a viver
São diferentes as gravidezes em maternidades ou em clínicas, nos meios rurais ou nos meios urbanos.
São diferentes os recém nascidos amparados por mãos de “habilidosas” ou por luvas de parteiras diplomadas.
São diferentes os filhos nascidos à custa de abonos e subsídios e os que têm um quarto só para os brinquedos.
São diferentes as jovens que se sujeitam a restaurar os hímens e as que se sujeitam à “honra perdida”.
É diferente a tez bronzeada de uma grávida de verão e a pele tisnada de uma grávida de enxada na mão.
É diferente o leite materno de uma mulher com vitaminas e a que nunca tirou de misérias a barriga.
São diferentes os filhos desejados e os filhos enjeitados, os que se mandam para as casas de correcção e os que vão ás consultas dos psiquiatras.
São diferentes os adolescentes que entram nas universidades e os que se ficam sem rumo na educação.
É diferente a vida e o viver
Não são iguais as mães de muitos filhos vivos e as que contam também os seus nados-mortos ou os que se foram em idade tenra.
É diferente uma mulher prenha e uma senhora no seu estado interessante.
Não são iguais as mulheres que evitam a gravidez com tranquilidade e conhecimento e as que passam tormentos de aflição e medo.
É diferente a mulher que faz o aborto às mãos de uma “curiosa” e aquela que se declara turista na fronteira londrina.
É diferente uma mulher que não sabe o que fazer à vida e se lança na busca de uma morada clandestina e a que bate à porta do consultório de um médico amigo ou amigo do seu marido.
É diferente uma mulher que paga o “tratamento” com um cheque visado e a que empenhou, às escondidas, os brincos de noivado ou uma peça da mobília.
É diferente o tecto salarial e o quarto de casal
É diferente a mulher que dá à luz entre gritos de dor e a que reconhece e controla as contracções de um músculo, a que chama útero.
É diferente uma cesariana na horizontal ou uma cicatriz na vertical.
É diferente a mulher que avia pílulas para muitos meses e a que poupa “camisas” com lavagens sucessivas.
É diferente a mãe que carrega um filho ao colo e a que o carrega atrás das costas para poder aproveitar as duas mãos livres.
É diferente um homem que já esteve numa sala de partos de aquele que é incapaz de apalpar o ventre grávido.
É diferente o homem que “se despacha e faz o seu serviço” e o que espera atento a partilha
É diferente um homem que foi pai de uma mulher que teve um filho.
É diferente uma mulher, que se estima como tal e a que preferia nunca ter nascido rapariga.
É diferente o corpo e o sexo.
Maria Antónia Pala, em 1984 quando da discussão do 1º projecto de lei da IVG, escrevia assim no "Diário de Lisboa".
podia escreve-lo hoje não é?
afinal o que mudou desde então?
nem o rosário.
Excelente comentário.
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